quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Só um efeito de iluminação.

Eu penso demais. Mesmo. Tanto que as vezes eu gostaria muito que meu cérebro viesse com um botão de liga e desliga. Não falo pensar num sentido de ser inteligentona, é pensar num sentido de deixar os neurônios independentes pra de repente eu me pegar analisando uma coisa aleatória. Não sei como meu cérebro não se deu um nó de marinheiro quando eu era criança, porque tudo que eu matuto hoje não é nada se comparado às minhas viagens quando pequena. Eu tinha tempo de sobra pra isso, e também espaço sobrando na cabeça. Me deitava na cama de mamãe e começava a pensar. Por horas.

Eu perdia muito tempo pensando se as pessoas viam o mundo do mesmo jeito que eu. Isso sempre me intrigou. Digo ver o mundo não no sentido subjetivo, mas no literal mesmo. Ficava pensando se o que eu enxergava amarelo era daquele jeito pra todo mundo, se um quadrado era um quadrado no olhar de todos. Comentei isso com mamãe e ela me disse que quando era pequena, por muito, muito tempo, acreditou que enxergava tudo diferente de todos, porque tinha os olhos verdes. Como nem seus irmãos nem meus avós o tinham, ela pensava que via tudo diferente. Isso me deixava tão, tão angustiada que por muitas vezes eu cheguei a perguntar pras pessoas como elas viam tal coisa, a mais trivial possível, um triângulo ou algo que o valha.

Aí que ontem, na aula de Filosofia, esse assunto surgiu. Estávamos numa discussão acalorada sobre o mal que é inerente à todos e o infinito egoísmo humano, e o professor num determinado contexto soltou: "E quem pode provar isso? Não sei nem se isso existe, se vocês são só um delírio meu!". Existe um cara, o Green, que elaborou uma teoria de queas três dimensões que conhecemos não passam de uma projeção holográfica. Parece absurdo, mas ainda não conseguiram provar que ele está errado. E Carlos Castañeda que dizia que tudo o que vemos é aquilo que nós criamos, e que ele, conseguindo abstrair essa "consciência automática", vê o mundo - repito, literalmente - diferente de todos nós. Que tudo é energia. Eu, pessoalmente, tenho minha crença bem formada nesse sentindo, mas não é bizarro (e divertido) pensar sobre essas coisas, principalmente pelo fator de que elas, pelo ponto de vista científico, são aceitas porque ninguém provou o contrário?

E as pessoas? Elas sempre me atormentaram tanto! Não adianta negar, a gente tem a sensação de que é o centro do mundo. Eu pelo menos tenho esse piloto automático. Antonio Prata semana passada escreveu sobre isso e me aflorou essa questão que tanto me era recorrente quando mais nova. A gente está cercado de outras pessoas! Pessoas que sentem, que pensam, que tem problemas, que tem uma vida, uma história e tudo mais. "É óbvio que tem, Anna Vitória idiota, ou você pensava que todos eram bonecos de plástico servindo de cenário pro seu mundo?" Eu sei que tem, é fácil pensar assim quando as pessoas, no caso, são aquelas que nos rodeiam: amigos, parentes, professores... Mas e aquelas que a gente não conhece? Que cruza na rua, que está na mesma escola, na piscina do clube. Vocês já pararam pra pensar que todos esses estranhos tem uma vida? E que como disse Antonio Prata, o cara que passa do seu lado na calçada deve estar pensando em, sei lá, sua namorada, e o que dará pra ela de presente, que não pode esquecer de comprar Coca-Cola pro almoço, e seus avós eram judeus e presenciaram todo o horror do holocausto, que ele tem um tio careca que vive de agregado em casa e faz bolo de milho nas tardes de sábado. Já pararam pra pensar nisso? Que existe um mini-mundo, que ao mesmo tempo é enorme, dentro de todas as pessoas que a gente já viu na vida?

A aula me trouxe tanta coisa à mente que eu e Sofia conversamos sobre isso durante todo o recreio. Ela levantou outra questão interessante: as pessoas nos vêem (literalmente) do jeito que a gente se vê? O que a gente vê no espelho todo dia é o que as pessoas enxergam quando nos olham? Vocês não tem a impressão, ao olhar uma foto, de que aquela pessoa é muito diferente da que você vê todo dia? Tem a questão da voz. Não é horrível ouvir sua voz gravada? Lembro que eu era bem pequena quando compramos nossa primeira secretária eletrônica, e eu, claro, quis gravar a mensagem. Chorei horrores quando ouvi o que havia dito, não me conformava que aquela era minha voz. Eu não a ouvia daquele jeito!

Nessas horas que eu me sinto má por dizer que David Lynch é dodói da cabeça. Em um de seus filmes, "Cidade dos Sonhos", vemos a primeira parte toda pela psique de uma personagem, e na segunda parte descobrimos que a vida dela é outra, ela é outra pessoa, e que aquilo que vimos de início era tudo que ela projetou sobre si mesma. O que ela acreditava que era. Como ela acreditava que as pessoas eram. E não tinha nada a ver com a realidade. Medo, né?

As questões são infinitas. O que se passa pela cabeça dos bebês? Como os cachorros enxergam o mundo, uma vez que eles tem o olfato como sentido principal, e do jeito que nós nos guiamos principalmente pela visão, eles o fazem pelo cheiro? Como será o mundo dos daltônicos, que enxergam as cores de forma diferente? As cores são mesmo as cores (de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores)? Vocês conseguem imaginar os pais de vocês sendo crianças, adolescente, se preocupando com espinhas e a prova de Química da próxima semana?

Eu acho esse exercício, o de pensar, pra lá de divertido. A gente aprende muita coisa com isso, e acima de tudo, vê que tudo é muito grande. Há muito mais do mundo do que nesse mini-mundo tão grande em que vivemos dentro de nós mesmos. As vezes a cabeça dá um nó, tanto que é preciso saber parar, senão a gente enlouquece. Sofia me contou que Clarice dizia que os ignorantes é que eram felizes. Talvez. Eu fiquei feliz em saber que ela (Soft) pensava essas coisas também. Pelo menos eu vi que louca eu não era. Ou talvez ambas o somos. Vocês também?

(não me achem maluca, por favor)
(se alguma informação estiver errada, me perdoem)

2 comentários:

  1. Wow! Eu achava que era apenas uma louca perdida em meio a devaneios, mas você realmente conseguiu expressar algumas das coisas que se passam na minha cabeça quando minha mente toma o controle.
    Ou será que o que vc escreveu é apenas uma projeção do que eu queria ler? o_O

    http://devaneiostransitorios.blogspot.com

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  2. HAHA e eu pensando que só eu achava essas coisas. Tinha uma época que eu acreditava que todas as pessoas eram frutos da minha imaginação e que todas as coisas que aconteciam comigo também. Sem falar que eu achava que havia uma forma de sair desse "mundo que eu criara" para eu ir para o verdadeiro. É claro, que eu devo ter problemas. Ou ando assistindo filmes demais.

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