A jovem, agora de ombros caídos, voltou caminhando lentamente para casa, já sem sorriso, com menos esperanças, e definitivamente, sem biscoitos de maisena. Pensara mesmo que teria coragem de dizer algo ao seu fotógrafo – como carinhosamente havia lhe apelidado – quando ele entrasse na padaria? Ainda que ela tivesse a pachorra de chegar-lhe na cara dura com alguma frase feita, tinha certeza que se conseguisse montar uma completa, certamente diria algo sobre o tempo, como fazia calor naquela cidade, o que iria ao menos justificar o suor de nervosismo que lhe escorria pela testa. Se a pobre já parecia uma maratonista na chegada da São Silvestre enquanto imaginava a situação, imagine se fosse de verdade.
“Se fosse verdade...” ela pensava consigo mesma, se fosse verdade ela o pegaria pela mão e os dois conversariam por todo o caminho de volta. Falariam sobre o tempo, sobre os paralelepípedos, sobre a cidade em que moravam. Falariam sobre nuvens com a empolgação de quem debate sobre a fidelidade de Capitu. Ela o convidaria para entrar, e o deixaria a vontade em sua sala, com o tapete felpudo, o gato gordo e os cds de jazz. Ou melhor, ele assistiria a primeira parte da novela, e iria lhe narrando, enquanto ela estava na cozinha passando um café quente e tirando os pães de queijo do forno. O amor deles teria cheiro de café de fazenda e gosto de doce de leite em tardes de março.
Uma ou duas vezes cogitou a hipótese de tentar chamar a atenção dele atirando no vento uma das margaridas de seu vaso, que ela cuidava com todo o afinco, com a esperança de que uma delas caísse em sua cabeça e o fizesse olhar pro céu procurando de onde viriam as mesmas. Na volta da padaria, como não tinha nada a perder, ela chegou a tentar. Escolheu a flor mais bonita, pediu desculpas ao ramo silenciosamente por lhe tirar a vida tão rápido, mas ela tinha melhores motivos. Atirou uma, duas, três. Maldita era a resistência do ar, que desviara as flores de seu destino, fazendo com que escorregassem lentamente pelo ar, assim como ia escorregando a garota do sétimo andar em suas lágrimas, enquanto sentava-se no chão da sacada e mordia as mãos de raiva por ser tão insignificante. Ah, se ela soubesse que o que escorregaria seria seu coração que se derreteria diante do olhar do fotógrafo que se voltara para cima, juntamente com a câmera, e registrara para sempre a chuva de flores que caía direto do sétimo andar.
(Continua...)
Ah, sim, essa sequência conta o início da história de Helena e Bernardo, de "Querido Qualquer Coisa" e "Energias Amarelo-Lavanda".
sorry, mas dessa vez eu achei clichê :/ já deu até uma banalizadinha na sublimidade dos discos de jazz, use outros artifícios!
ResponderExcluirAAAAH, POIS EU ACHEI LINDO DEMAIS!
ResponderExcluirHahaha,aaaah, vc escreve bem demais, caraa!
beijo.
*esperando o resto.
Gostei do texto. Gostei do blog. ;)
ResponderExcluiraaaai, gostei muito. Me surpreendeu, você é muito criativa :P
ResponderExcluirbeeijos, e espero a continuação!
Que lindo, Anna! Que interação mais sutil e fofa entre eles *.* Espero a próxima parte. Adorando o conto.
ResponderExcluirBeijos!
Mais uma vez muito fofo!
ResponderExcluirAguardando o restante! :D
beijos
http://minidesastres.blogspot.com
To gostando tb! eu acho lindo a sua capacidade de dar um sentido tao real e suave nas palavras, que da pra sentir o cheiro das coisas, a emocao dos personagens, msmo sendo so um conto! o importante eh isso, fazer a gente sonhar com coisas boas! :}
ResponderExcluirps: mas q vc continua me passando raiva com essas delicias todas, isso sim!!!! (paozinho, pao de queijo, doce de leite... :~~~~~~~~~~)
Bem legal aguardo os proximos capitulos...
ResponderExcluirbeijos !!
Li o post. E li os comentários. Eu sei lá, jamais vou achar um texto seu clichê, a não ser que vc o escreva com este propósito. Sei sim, que ao ler seus textos eu acabo sempre criando pequenos filmes mentais, pq leio td como se fossem verdadeiros roteiros. E mais, se tem perfume, se tem cheiro de mato ou pão de queijo ... eu sinto tudo de tanto q vc consegue me envolver com tuas letras! E a história em sí, não dá pra evitar de sentir a atmosfera ... como a Tary disse, de aproximação deles.. o clima, enfim.. eu fico besta com teus textos! To quase encomendando alguma coisa eheheh \o/// Bjooo e parabéns pela genialidade toda1
ResponderExcluirEBA adoro quando você escreve contos divididos em partes vc escreve super bem, aquele na carolina foi sensacional! Estou doida para ler o final hihihihi ah aqui eh a mariana do pessoalices, eh que eu mudei de blog, agora com licença que eu vou ler seus últimos posts, eh que eu adoro o so contagious e jah estou a um tempo sem passar aqui.
ResponderExcluirobs: parabéns, jah li que vc fez aniversário! :D
Poxa, acho tão singelo esse conto seu! Muito mais pela sensibilidade dos gestos que a personagem tenta para se aproximar de seu fotografo.
ResponderExcluirBeijos.
to acompanhando o conto. Helena é uma douçura.
ResponderExcluiradorei o blog.
to fazendo uma promoção no meu valendo um cd do colplay - viva la vida.
dá uma passadinha lá se dé
http://withoutwonderland.blogspot.com/
xx
*.*
Querida, não tente agradar todo mundo, ninguém consegue, sempre vão existir os que se desgradam. Vc escreve lindamente, cultive esse hábito e esse dom, vc vai longe, tenho certeza!
ResponderExcluirDoida pra saber o final da história!
Beeeeijos
Precisa de mais clichê do que assinar Lizzie Bennet?!?
ResponderExcluirHahahaha!
Escrever bem não é só escrever bem. É criar situações tão lindas e cheio de detalhes sutis que aos olhos dos outros passam imperceptíveis. Como pedir desculpas para a margarida ou "doce de leite em tardes de março". Ou um instante tão importante como a do fotógrafo se virar para cima com a câmera e poder registrar a chuva de flores. Que coisa mais linda, Anna! Você sabe fazer isso. Acho que não é só porque você É UMA ESCRITORA, mas porque você tem um coração iluminado. Não perca isso nunca.
ResponderExcluirbeijo grande
Mel
Eu lembro dessa crônica no seu fotolog. Até tentei entrar lá agora pra lê-la porque ela era diferente, né? Mas a conta estava desativada. Eu sei que esse sempre foi o meu texto preferido de todos que você escreveu. Fiquei feliz de você ter aumentado ele, mas linhas de boniteza *-* hahah apesar de que eu queria ler o original pra lembrar. E eu adorei essa segunda parte (:
ResponderExcluirbeijo annoca ;*
Amei muito seu texto, aliás, adoro todos, principalmente os contos. =]
ResponderExcluirbeeijos.
A parte da cozinha lembrou-me Amélie Poulain... Bateu uma nostalgia de coisas que não aconteceram. Viajo legal com seus textos.
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