quarta-feira, 14 de abril de 2010

Se Holly Golightly fosse loira

Assistindo a versão comentada de "Breakfast at Tiffany's" descobri que quando surgiu em Hollywood o burburinho que Blake Edwards adaptaria o conto "Bonequinha de Luxo", de Truman Capote, para o cinema, os agentes de Marilyn Monroe foram os primeiros a contactar a produção, pleiteando o papel principal, da maluquinha e ingênua Holly Golightly, para o furacão loiro. Foi um certo constrangimento para a equipe, pois Audrey Hepburn já estava escolhida para o papel assim que a idéia do filme surgiu. Dispensaram Marilyn Monroe. Ainda bem.

Para quem não sabe, por mais linda, doce e elegante que Holly Golightly possa parecer nas telas, ela nada mais é que uma acompanhante, como se diria na época, uma garota que ganha cinquenta dólares para ir ao ladies room to powder her nose. Algo como uma prostituta, sejamos diretos. Entretando, quando vemos Holly no filme, isso fica em segundo plano. Ou terceiro, ou quarto. É um detalhe quase irrelevante. E muito disso se deve ao elemento Audrey Hepburn.

Por causa de Audrey, o que fica de Holly na cabeça das pessoas é aquela doçura, a inocência, vemos a personagem em sua profundidade. A garota que se casou aos 14 anos, fugiu de casa para ir para NY, não compra móveis e não dá nome ao gato porque só se estabilizará quando de fato tiver tudo o que deseja, vai para a Tiffany no início da manhã quando está triste e se sente sozinha sem saber por que, sofre todos os dias com a ausência de seu irmão Fred. É um personagem tão sutil que um mero deslize faria dela mais uma dentre tantas interesseiras vulgares. Ou só uma burrinha. Era o que, ao meu ver, Marilyn Monroe faria com Holly Golightly.

Não digo isso por puro achismo. O filme "O Pecado Mora Ao Lado" é muito lembrado pela famosa cena do vestido, mas muito além disso, o filme é um "Bonequinha de Luxo" distorcido. Nele temos Richard Sherman, um tradicional homem e marido americano, que se vê sozinho no verão quando sua mulher e seu filho vão curtir os dias de sol no Maine. Ao chegar em casa da estação conhece uma loira espetacular (que não tem nome), uma nova vizinha que esqueceu as chaves. Acidentalmente um vaso cai do apartamento da garota na varanda de Sherman, que estava imerso em fantasias particulares sobre seu eu-sedutor e quantas mulheres ele já dispensou por sua fidelidade à esposa. Em sua imaginação, claro. Completamente desconsertado pela presença da garota, convida-a para um drinque e vai conhecendo-a aos poucos.

A garota é o protótipo da loira burra. Fala tudo que vem a cabeça, não liga para incovenientes - desconhece-os talvez. Não enxerga as artimanhas batidas de Sherman para seduzi-la, confessa que não sabe nada de música, se empolga ao tocar "Chopsticks" ao piano, aqui no Brasil o famoso "bife". Acha realmente o máximo o fato de ter participado de um comercial de creme dental, e repete o texto piegas como se fosse frase de um dos grandes roteiristas da era de ouro de Hollywood. Acaba dormindo na casa dele por causa do calor. Ela só precisava de ar condicionado e apareceu de surpresa no apartamento devido a uma divisória improvisada que fora feita na hora de dividir o duplex, facilmente destruída por uma chave de fenda. Ela era burra e rasa.

Já Holly Golightly conhece seu vizinho, Paul Varjak, ao abrir a porta para ele, novo morador que esqueceu as chaves. Ele pede pra usar o telefone, e vai ficando, e Holly desatina a falar sem parar, sobre o gato sem nome, sobre seus "clientes" ratos, seu amor pela Tiffany, seu querido irmão Fred ("you do look like my brother Fred, can I call you Fred?"), seu "emprego" de visitante do mafioso Sally Tomato na prisão e a estranha obrigação de voltar com a previsão do tempo. Um dia acaba dormindo na casa de Paul, porque fugiu de seu apartamento onde um cliente queria um pouco mais de regalias. Surgiu da escada de incêndio. Holly era, apesar de tudo, ingênua.

Fico imaginando se Holly Golightly em mãos erradas não teria se transformado na vizinha loira burra e bonita que desnorteia o average american man nas noites quentes do verão nova-iorquino. Em "O Pecado Mora Ao Lado" Marilyn, apesar de contribuir muitíssimo para a história, é uma mera coadjuvante, já que o filme todo só é tão bom devido a Tom Ewell, o protagonista, e a leveza que o diretor Billy Wilder soube dar, dando asas tão grandes a um filme que se passa, em sua maioria, em um só cenário. Já Audrey, como Holly Golightly, rouba para si todos os flashes e atenções do filme, sendo lembrada por esse filme até hoje. Para os que não conhecem o trabalho dela, a única referência de imagem que se tem, provavelmente, é a dela com seu imortal little black dress, óculos ray-ban, em frente a Tiffany's.

Que bom que as coisas se sucederam assim.


22 comentários:

  1. adorei! nunca assisti nem um, nem outro. mas só pela sua descrição dá pra saber mais ou menos como são os filmes! ^^
    beijos!

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  2. Oi Anna!
    Post 'informativo' pra mim! assim como a Alice, nunca assisti nenhum dos dois, mas parecem ser interessantes.
    Sou bem por fora de coisas retro de qualidade :~

    Beijos

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  3. Menina, gostei muito da tua crítica cinematográfica. Também adoro Hepburn pela sua sutileza. Afinal, Holly era uma garota comum de mentalidade diferente e buscava diversão nas pequenas coisas. O único defeito que eu vejo na época da Audrey eram os papéis pouco gratificantes que eram dados aos atores e atrizes. Folhetins de Capote eram comuns, mas não se viam filmes tão sérios, apenas romances de sessão da tarde. Acompanhei a filmografia de Audrey, mas nunca me surpreendi com um enredo favorecido a ela - que foi uma atriz memorável.
    Beijos.

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  4. Cara, quando leio críticas assim, penso: eu não entendo nada de nada, MESMO.

    Muito boa a crítica. MUITO MESMO!
    Parabéns.

    :*

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  5. Amiga, me diz qual o nome desse filme em português? Eu queria muito alugar, mas preciso do nome pra isso! rsrs, realmente acho ela mais fofa que a marilyn. rsrs desculpa o tempo sem visitar seu blog, bjo

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  6. Não assisti a esse filme ainda, não posso opinar direito.
    Bjitos!

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  7. Gosto muito de Marilyn... acho uma mulher que viveu fora do seu tempo, da sua época. Era ousada, corajosa, sensual, mas ao mesmo tempo, tinha suas fraquezas... Ela mostrava a mulher de verdade que era. Mas isso, como mulher, como Marilyn. Como atriz, ela nunca acrescentou muito. Sua imagem sim. Não sua atuação.

    Bonequinha de luxo é incrpivel, um clássico, liondo, sutil e Audrey deu vida e eternizou Holly... amo a cena dela no violão, cantando Moon river *-*.

    Amei seu post.
    ;**

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  8. Sabe que eu nunca assisti nada com a Marilyn? Fica difícil, então, me pronunciar, mas acho (assim como o resto do mundo) que a Audrey foi sim perfeita para o papel e Holly. Ando com vontade de rever esse filme, até já baixei, mas cadê a disposição? Não assisti quase mais nada desde que voltei às aulas, uma vergonha!
    beijos, anna!

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  9. Né menina!! Eu fiquei sabendo disso no DVD, adoro o filme bonequinha de luxo. A Audrey deu uma sutileza para o filme a Marilyn não daria.

    Em vez daquela menina simples, divertida e com sonhos fazendo o que fazia, meio que sem saber...ou sem maldade, com a Marilyn seria aquilo que vc disse... a loira blá blá blá.

    Acho que foi um dedinho do universo aí, para termos essa obra linda que é esse filme. Audrey é o ponto alto, e linda...linda de verdade.

    beijinhos

    Por Sami

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  10. Acho que cada uma tem o tipo perfeito para os filmes que fizeram, Marilyn com a garota boba e Audrey com a ingênua Holly. Não sei escolher uma delas, ambas maravilhosas ^^
    Desculpe a demora :*

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  11. Anna, eu já baixei Breakfast at Tiffany's e quando tiver um tempinho, vou assistir! Mas já gostei da história pelo que li aqui.
    A Marilyn é um ícone sexual, aquelas curvas lindas, as roupas, poses... Já a Audrey, um ícone de elegância. Realmente, existe um papel pra cada uma, sem brigas (:

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  12. acho que meu comentário é dispensável, né?
    Você sabe que é meu filme preferido, você sabe que eu acho ela a coisa mais linda do universo, você canta Moon River comigo todo dia.
    Que Marilyn o que, Deus me livre! haha
    Adorei o post, como sempre, Anna.
    Um beijo!

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  13. Legal heim, bastante pesquisa.. eu acho a Marilyn TDB.. e linda!
    Valeu!

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  14. Tenho vergonha ao dizer isso, mas eu nunca vi nenhum dos dois filmes. Eu queria ver, mas sempre esqueço na locadora, e para baixar eu não consigo. Todos que já viram o filme gostaram, e só pelas fotos que eu vejo e comentários fico com aguinha na boca rs.
    Beijo

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  15. Olá, quero tomar um pouco da sua atenção e pedir para visitar meu blog,
    lá tem varias novidades sobre livros, se você não gosta, conheça.
    Não custa nada visitar outro universo! Te espero lá!

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  16. Nossa, filmes antigos parecem ser otimos eim!
    Tem um luxo especial!
    Bjs

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  17. Ah não. Holly é tão Audrey que não dá nem p/ imaginar a Marylin fazendo esse papel e nem é pq ela, provavelmente, faria um personagem vulgar mas por que a Marylin faz um tipo sensual-cômico que não tem nada a ver com Holly. É a mesma coisa se a Audrey fosse interpretar a Sugar de Quanto mais quente melhor, não dá nem p/ comparar, o filme é totalmente Marylin! Faço minhas, suas palavras: ainda que as coisas sucederam assim.
    beijos!

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  18. Imagina Marilyn cantando Moon River na sacada? Não rola, com certeza.
    Beijo!

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  19. sabe que sou louca pra assistir bonequinha de luxo? sempre que leio audrey por aí aumenta minha vontade, até a blair gosta dela,caramba!! mas não tenho como conseguir o filme, já procurei por aqui, mas não encontrei. :s

    -

    enfim, eu burra, consegui adicionar o so contagious no blogroll ( o link sempre quebrava e não apareciam atualizações);hoje enfim, eu reparei no bendito 'assine os feeds' no topo :x

    beijas, garota

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  20. ai meldels, pq eu não assisti a nenhum desses filmes qndo tive oportunidade? o.o'

    kkk, li o post todo e a unica coisa que posso te dizer é que... bem, naquela época era tudo mto mais bonitinho. no final das contas, nem era tããão importante assim o fato dela ser uma 'rameira', desde que conseguisse ser fiel ao caminho que audrey deixou ^^'



    saudades de vc e dos seus posts anna! :) bjuxx florzinha!

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  21. Me sinto tão leiga quando você fala sobre filmes... E mesmo assim adoro. Já tô procurando Breakfast at Tiffany's pra baixar, porque agora preciso assistir, haha.
    Beijos.

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  22. Anna, minha flor.
    Sinto tanta angústia quando leio um post destes e não posso publicá-lo em uma revista de cinema, em algum espaço para todos verem o seu olhar delicado sobre as coisas.
    Nunca assisti o filme com a Audrey e morri de vontade de vê-lo e você sempre faz isso com a gente: desperta nossa vontade de ver o filme de que você se refere.
    Sobre a interpretação dela, a despeito da outra, concordo com você em gênero, número e grau. E acredito que é certo que se a atriz fosse Marilyn, o resultado teria sido beeeeem outro.
    Isto me fez lembrar de uma amiga que está me ajudando em um projeto social. Eu vou dirigir a peça, mas ela está se formando em ARtes Cênicas e vai aplicar alguns jogos e improvisações. Eu decidi que além de dirigir vou fazer uma das personagens e ela me disse que vai pegar no meu pé, porque como a personagem é adolescente a tendência é que eu a estereotipe. Sendo que um estereótipo nunca me passou pela cabeça, porque a personagem tem tantas sutilezas!!!
    Enfim... rs. Estou escrevendo um post, aqui.
    beijos!!!! E parabéns pelo texto.
    Mel

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