segunda-feira, 7 de abril de 2014

Leslie e Ben me entenderiam

Eu gosto de muitas coisas estranhas, muitas coisas que as pessoas não entendem realmente qual é a graça. Algumas delas eu desisti de explicar e acho melhor definir da forma mais genérica possível e que leva ao mínimo de questionamentos posteriores. E entre minha paixão pelo Twitter, os churrascos de RPG e o gosto pouco ortodoxo por pagode dos anos 90, a coisa mais estranha, incrível e difícil de definir que eu gosto é a simulação. 

Você descobre que uma coisa é legal quando ela aparece em Parks e Rec
Lá em 2010 fui apresentada a um universo paralelo particular em que alunos tiram um fim de semana pra brincar de ONU. A gente dá uma folga pros nossos moletons da GAP e pega emprestado as camisas sociais da mãe e vai pra escola fora do horário normal discutir questões que afetam o mundo inteiro, agindo com base em políticas externas de países que às vezes a gente nem conhece e em outras a gente não concorda. Mas tudo bem, sabe. Aliás, tudo ótimo. Porque a partir do momento que entramos na sala de aula travestida de comitê, com suas regras particulares, seu dialeto próprio e os constantes pedidos de decoro, é como se estivéssemos mesmo lá em Nova York falando como e para chefes de Estado a respeito de coisas muito importantes e urgentes, talvez até terminando ou iniciando algumas guerras.

Eu tinha 16 anos quando me meti nessa doidera pela primeira vez, e não fazia ideia do que me esperava. Pra completar, eu representava um país super importante dentro daquela discussão e era uma das vilãs do comitê. Pessoal querendo acabar com o trabalho escravo e eu batendo o pé e defendendo o mesmo. Eu não fazia ideia do que estava fazendo ali e não ajudou muito o fato de eu ter vivido uma intensa paixão platônica por um dos delegados que estava do lado do bem do comitê, como um anjinho charmoso que punha a mão no meu ombro enquanto eu tentava inutilmente encarnar a demônia chinesa, me recusando a assinar tratados importantes. 

Não foi um dos meus melhores momentos, mas foi o suficiente pra eu me apaixonar por aquele mundo. Até cheguei a prestar Relações Internacionais e se eu não estivesse tão certa com relação ao Jornalismo na época, eu bem que poderia, num momento de fraqueza, ter ingressado naquele curso. Se eu seria feliz eu não sei, mas eu participaria de novo e de novo e de novo de tudo quanto é simulação que aparecesse pela frente.

Três anos depois desse primeiro contato com o universo paralelo das simulações, a escola onde eu estudei me chamou pra trabalhar com eles na organização do evento. Esse ano foi o segundo ano que fiz parte desse projeto lindo desde os bastidores, e ver como tudo é feito, ralar muito pra que seja perfeito, só me enche de mais vontade que mais alunos tenham a chance de viver isso e descobrir como é incrível simular. Então, quando eu entrava nas salas de aula pra falar sobre isso, às vezes sentia um desespero ao flagrar a maioria dos alunos com cara de interrogação, sem fazer a menor ideia do que eu estava falando. Vocês devem estar com essa cara agora, porque é um conceito muito abstrato de se explicar. Meus pais, por exemplo, não entenderam até hoje e ficaram deveras consternados no dia que eu cheguei contando que o evento foi um caos porque rolou crise, seis pessoas morreram e uma das meninas da imprensa foi ameaçada de morte. Simulações: never gets boring. 

Por isso que me peguei muitas vezes apelando ao sair do roteiro e dizer GENTE É LEGAL EU JURO, quase me ajoelhando na frente da sala, implorando para que todo mundo se apaixonasse como eu. 


Foi também o segundo ano que eu comandei o comitê de imprensa, uma tarefa que me esgota sempre, mas que é paradoxalmente apaixonante, como acontece com o próprio jornalismo. São muitos jornais, eu tenho que fechar todos, orientar os alunos, pular feito maluca de comitê em comitê pra ter alguma noção do que está acontecendo e ainda impedir meus jornalistas de quebrar janelas e invadir salas em momentos impróprios. É tão cansativo que até brinquei pra minha mãe que eu só amo depois que acaba, mas ela e eu sabemos que eu sou viciada nessa vida e a prova cabal disso é que eu desisti de ver a Lorde, o Pixies, o Muse e o Vampire Weekend pra participar esse ano. E até agora não me arrependi, e olha que eu já vi o vídeo do Ezra sendo uma delícia com sua jaqueta jeans e o português de gringo (mas confesso que não tive guts pra dar play no cover que o Muse fez de Lithium, porque limites). 

Mas, quando digo que a melhor parte é mesmo quando acaba é porque a gente se reúne pra cerimônia de encerramento e os alunos estão todos eufóricos, extasiados, felizes com eles mesmos e transformados por aquela experiência. E aí eu queria poder abraçar todos eles e agradecer pela coragem de comprar aquela ideia maluca e topar cair ali de paraquedas sem saber direito como funciona, mas com vontade de descobrir e dar o seu melhor. E eu não acredito tanto assim no mundo, muito menos na ONU (me abracem Giu e Mimi), mas eu acredito muito nesse tipo de pessoa. 

Então é isso, agora já tenho um link pra mandar pra todo mundo quando me perguntarem o que raios é uma simulação e por que alguém deveria entrar nessa roubada.

socorro virei tia 

6 comentários:

  1. O mais importante nesse tipo de projeto, a meu ver, é estimular nos participantes esse interesse pela política mundial, por assuntos importantes que passam despercebidos pela maioria das pessoas. Mais do que isso, é um constante exercício de crítica e pensamento social, já que você pode até interpretar um personagem, mas as ideias ali presentes são bem reais.

    Adorei ler sua história, gostaria de ter tido esse tipo de evento nos meus tempos de colégio!

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  2. Amiga, sério de que você tem ~trabalho~ para convencer as pessoas de que isso é sensacional? Porque desde a primeira vez que eu li a respeito, quando você ainda era aluna, eu já achei uma ideia brilhante!
    Pausa: churrascos. HAHAHAHA <3
    E amei você dizendo que pessoas morrem, jornalistas quebram janelas e que você "eu tentava inutilmente encarnar a demônia chinesa, me recusando a assinar tratados importantes", HAHAHAHA. Porque, gente, levar simulação a sério é a graça da coisa. AKA T. molhando o carvão e entortando o abridor de garrafas, sabe.
    Precisamos brincar de alguma coisa do tipo no próximo encontrão, porque eu amo levar essas coisas a sério!
    Te amo! <3

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  3. Nossa queria muito isso na minha época de escola. Vc tentando convencer as pessoas a participar parece eu tentando persuadir pelo menos 14 pessoas a participar da gincana literária nos meus anos de ensino médio. Saudades ensino médio.

    Adoro teu blog ;)

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  4. Nossa queria muito isso na minha época de escola. Vc tentando convencer as pessoas a participar parece eu tentando persuadir pelo menos 14 pessoas a participar da gincana literária nos meus anos de ensino médio. Saudades ensino médio.

    Adoro teu blog ;)

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  5. A primeira vez que cê falou isso na Máfia fiquei voando, não vou mentir. HAHAHA. Mas a ideia é genial mesmo, Annoca, e ainda pode guiar muito aluno pra essa área de RI. Queria que no meu colégio tivesse algo do tipo.

    Achei ótima a história do delegado e da demônia chinesa HAHAHA QUERIA VER VOCÊ TENTANDO PERSUADIR O POVO DE QUE ESCRAVIDÃO É NECESSÁRIA COM 16 ANOS E VOZ DE PÔNEI HSUIAHSIUAHOSAHUISHAUISH que fofa aff.
    E chegar dizendo: rolou crise, seis pessoas morreram e uma das meninas da imprensa foi ameaçada de morte. Gente, pelamor, sensacional!!!!!!!!

    Apoio a ideia da Analu de brincarmos de simulação num próximo (T_T) encontrão.

    Beijos, amiga <3

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  6. Me arrependo muito de nao ter participado. Meu colégio tinha, mas se não me engano era mais para a area de humanas, mas alunos de outras areas podiam fazer tb. Hoje em dia eu vejo que deveria ter ido atrás. :(

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