quarta-feira, 7 de maio de 2014

Anywhere but here

(2012, 2013)

Uma das críticas negativas que mais li a respeito de Um Dia, um livro que gosto muito, é a de que a execução da proposta é inverossímil e até um pouco mal feita. Isso porque o livro se propõe a acompanhar os personagens por vinte anos, sempre no mesmo dia. Cada capítulo do livro fala do mesmo dia 15 de julho, ano após ano, e ok, é verdade que sempre nesse mesmo dia acontece algo significativo que faz a Emma pensar no Dexter ou vice-versa (que saudades desse livro), mas não foi pra discutir isso que vim aqui hoje. 

O negócio é que desde que me apaixonei por Um Dia, resolvi começar a registrar, ano após ano, um dia da minha vida, para ver qual é. O engraçado é que comecei há dois anos, e esses dois dias não foram dias como outro qualquer. Para o terceiro ano eu não sabia o que esperar da brincadeira, e se à meia-noite do dia 3 de maio me perguntassem onde eu estaria dali 24 horas, eu jamais imaginaria o que seria de mim naquelas próximas horas. 

Era uma vez eu, à meia-noite do dia 4 de maio de 2014, sentada no tapete do quarto de Paloma, junto com ela, a Analu, a Giu e o Marcelinho, irmão da Pa. Nós cinco em volta de uma garrafa de vodka, um balde de gelo, e papéis grudados na testa. Fico imaginando se alguém que pegasse a cena fora de contexto seria capaz de inferir que estávamos apenas brincando de Bastardos Inglórios e que tinha mais risada, gelo e gente se engasgando ali do que empenho para esvaziar a garrafa. Mais tarde transferimos a brincadeira para o tapete da sala de TV, onde brincamos de todos esses jogos de roda, juventude e viagens que éramos capazes de lembrar, terminando com o bom e velho stop, seguido da pizza que havia sobrado do dia anterior.


Há 24 horas, aquela sala abrigava um Encontrão Mafioso com pizza, pijamas, gargalhadas e troca de figurinhas, e por mais que estivéssemos rindo, por mais que estivesse tudo muito bom, não podíamos deixar de sentir o peso da falta da nossa folia que havia tomado praticamente de assalto a casa da família Engelke  Muniz nos últimos três dias. 

Não sei bem quando fomos finalmente dormir, mas foi estranho estarmos em número reduzido o suficiente para cabermos todas no quarto da Paloma. Aquela casa estava vazia demais, calada demais e existia espaço demais para quem até ontem estava dormindo em camadas e muito feliz por isso. Apagamos sem conversar muito para acordar novamente às 9h40 da manhã. "Giu, não era pra gente já estar na praia?", perguntei. "Era", a Giu respondeu, porque o plano era esse mesmo. Acordar às 8h para pegar praia logo cedo e aproveitar ao máximo antes de levar a Analu para o aeroporto, mas no quarto Encontrão a gente já deveria saber que cumprir planos à risca jamais foi o nosso forte.

Aliás, se os planos fossem seguidos, nem no Rio de Janeiro eu estaria. Perdi meu voo de volta pra casa no dia 03, de um jeito tão besta e absurdo que só consigo creditar ao destino ou a Deus, que cansou de me ouvir buzinar no ouvido Dele que eu não queria ir embora. Agora toma, fia. Ou então foi só incompetência da Gol mesmo, mas essa história eu conto depois. O importante é que eu perdi meu voo e ganhei mais um dia inteiro no Rio, cidade que roubou meu coração da tal forma que depois de uma injúria dessas, ao invés de chorar no cantinho, eu fiz o que todo bom carioca faria: fui pra praia.


Eis que estávamos na praia da Barra (insira sua referência funkeira de preferência aqui) prontas para entrar no mar gelado, criando coragem para ir além dos tornozelos. Nos demos as mãos, eu, Paloma, Giu e Analu, e resolvemos pular ondas. Não sei se foram sete ou se perdemos as contas e acabamos pulando mais do que deveríamos, mas aquela água gelada, aquelas ondas e até o caixote que eu tomei tinham gosto de recomeço. Eu estava com a garganta doendo e com o corpo todo querendo ficar gripado, mas nada que uma onda forte seguida de uns goles de água salgada e outros litros que entram pelo nariz e salinizam a alma não resolvam. Eu juro pra vocês que minha dor de garganta sarou ali. 

Foi depois desse banho de mar gelado e redentor que resolvemos reiniciar o ano ali mesmo. Se judeus e chineses tem direito a um ano novo próprio, por que não nós, as mafiosas, também? 2014 chegou chegando com seu janeirinho da zica que veio se desdobrando até abril, mas o Rio de Janeiro, maio e aqueles dias lindos coincidindo com o nosso meme cabalístico nos trariam a glória. Ou pelo menos um espírito aberto e cheio de gratidão para recebê-la.


Na volta da praia meu celular caiu no chão e rachou a tela, mas vamos considerar isso como um arroto revoltado da zica e seguir em frente.

Na dúvida entre devorar logo a lasanha que a tia Lara tinha nos deixado ou tomar banho para tirar aquela crosta de praia, acabamos no chuveirão gelado da área externa mesmo, lavando os cabelos com o shampoo de macho gentilmente cedido pelo Marcelinho. E não é que o shampoo da Xuxinha funcionou num cabelo ruivo de farmácia pós sol & sal? Fica a dica para as bloguetes.

Mais tarde foi hora de conversas preguiçosas e cochilos para espantar a melancolia que começava a se instaurar com a proximidade de mais uma despedida. Tentávamos rir enquanto ajudávamos a Analu a colocar as últimas coisas dentro da mala e dar aquela conferida final se nada tinha ficado pra trás, tentando não pensar que faltava pouco tempo para irmos para o aeroporto. Abraços, lágrimas, Clarice Falcão e uma conversa sobre quadrinhos. Galeão, o inevitável tchau, um abraço em grupo, depois outro, e mais outro, choro de Passarinha e Analu me pergunta se eu perderia aquele voo de novo se pudesse voltar no tempo. Na condição de quem ainda não tinha levado a bronca que inevitavelmente me aguardava em casa, disse que ela não devia me fazer perguntas difíceis.


E algum tempo depois, eu de volta à sala de de TV de Palo, alternando cochilos com A Nova Cinderela e brigadeiro de colher, pensava na viagem do dia seguinte, no certeiro sermão que me aguardava em casa, e em tudo de incrível e lindo e maluco que vivi naquele feriado perfeito, e em como a vida é absolutamente imprevisível. Alguns meses antes eu tinha pensando sobre esse meme e em onde eu estaria, e nem passava pela minha cabeça que aquela viagem aconteceria, assim como há pouco menos de 24 horas eu poderia jurar que o dia 04 de maio seria passado com muita preguiça e saudade em casa, numa ressaca densa que só vem depois de coisas muito boas. E ali estava eu, repetindo as falas junto ao filme da Hilary Duff, observando em voz alta como o Chad Michael Murray já foi lindo e desejável, cantando a trilha sonora junto com Giuliana e Paloma, as três soldadas restantes de corpo presente, mas sentindo todas ali o tempo inteiro. Porque estar perto não é físico, principalmente em se tratando da gente. Não era pra eu estar ali, e mesmo assim não tinha outro lugar no mundo em que eu deveria estar.

E foi assim que mais um dia 04 de maio passou por mim. Feliz ano novo pra vocês também.

And I'll always remember it

12 comentários:

  1. Só queria dizer que eu chorei. Que eu ainda sinto dores no corpo todo que com certeza não são fruto só das nossas andanças pelo Rio, do mar que puxava muito, das horas perdidas em ônibus, metrô e táxi ou das noites dormindo em camada. Com certeza a saudade se instalou nos meus ossos e em todas as outras células do meu corpo, porque saudade também é dor física, com certeza.

    Vou comprar uma garrafa de "vodega" e um xampu da Xuxinha pra ver se a saudade vai embora mais rápido (embora eu saiba que nada vai surtir efeito, pelo menos por agora).

    E aí a gente vai vivendo, com saudade, até nosso próximo feriado/final de semana/dia.

    Amo tanto a gente <3

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  2. "Crazy as it seems, I don't wanna be anywhere but here". Mesmo com todos os erros e com toda a ressaca moral e sentimental, parece que tudo conspirou pra gente estar ali naquele dia, no nosso dia. Como todos os outros dias do feriado, foi maravilhoso e to pulando por dentro porque agora sempre terei seu post pra me matar de saudades de quando em quando, fotos creiças e tudo. Já to morrendo de saudades e ó, já pode voltar. <3

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  3. Adoro a amizade de vocês! É tão bonito e insipirador <3
    Que bom que a sua viagem para o Rio foi maravilhosa, apesar de alguns detalhes errados, como perda de voo e queda de celular, mas afinal, o que são essas coisas perto de estar ao lado de suas amigas o dia todo né? Praticamente nada! :)

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  4. Amiga, que post mais maravilhoso que, obviamente, eu já li mais de 2 vezes. Nosso dia 4 foi incrível, e olha, nunca vou mentir que amei você ter perdido aquele voo. Qualquer 5 minutos a mais de vocês se torna incrível, e é sempre melhor quando estamos juntas. E, realmente, não teria como esse dia 4 de maio ter se passado sem você. O destino, ele sabe das coisas. Meu dia 5 de maio contou com um arroto da zica também, mas agora há de ter acabado. Nos preparemos para receber a glória! HAHAHA
    Um ano que começa com vocês NÃO TEM como dar errado, né? E não, universo, isso NÃO É UM DESAFIO, ok?
    Amo você, amo a gente, amo o que a gente faz quando estamos juntas. E amo o que criamos ~separadas~, mas sempre juntas.
    <3

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  5. Não conhecia o Um Dia, mas achei incrível a sua adaptação e confesso, estou com muita vontade de plagiar haha
    Beijos flor!!

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  6. Eis que dias depois apareço aqui para ler esse post, e choro, obviamente. Chorei sim, e quando li o comentário da Giu pensei a exata mesma coisa: como fiquei dolorida na segunda-feira, e não era nada além de um coração partido de tantas saudades. Também amei quando você perdeu o seu vôo, porque pude passar uma horinha a mais com você <3

    E queria ter perdido o meu também, e pulado as ondas com vocês. Mas a verdade é que eu estava com vocês, assim como vocês estão sempre comigo <3

    Amo, amo e amo, amo tanto que chega dói.
    Beijo!
    PS.: Aguardo dormir em camadas de novo <3

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  7. Sei que a saudade teima em arder em todos os momentos. Ainda to sentindo essa ressaca estranha, essa ausência chata dA GENTE. Mas eu sei que o amor é muito maior, transborda, se espalha e dorme em camadas e conchinhas. <3

    Queria muito ter perdido o meu voo (quase perdi, aliás) para ficar mais um tanto de tempo com vocês.
    Amo muito! <3

    Agora vou ali estudar baleias porque essa é minha profissão agora. Licença. <3 <3

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  8. Não acredito que esqueci desse meme!!! Absurdo! E quero saber a história da perda do avião, deve ter sido bem engraçada! hahahaha Imagino o sermão também, esse deve ter sido ruim e.e
    Foi uma pena eu não ter estado o tempo todo com vocês, mas não reclamo porque fiz minha mãe mais feliz do que a via ser há tanto tempo, que acho até injusto eu reclamar de qualquer coisa. O fato é que estávamos no mesmo lugar ao mesmo tempo e tudo foi bom pra todo mundo, exatamente como deveria ser.
    Abraços <3

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  9. Tem que aproveitar cada dia como se fosse o último de nossas vidas.

    jj-jovemjornalista.com

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  10. Não vou dizer que queria ter perdido meu voo (muitas horas devem separar o Rio de Janeiro de Big Field), mas fiquei com uma certa invejinha da sua aventura (pós-desespero). Queria ter farofado na Praia da Barra com vocês e passado o 4 de maio com quem criou a ideia in the first place. Achei linda a história do ano começar de novo e rogo para que este maio ruim para muitas de nós seja apenas aquele janeirinho velho de guerra que quase sempre é meio cagado, mas reserva um ótimo ano. Seu post ficou lindo, amo você e estou com saudades <3

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  11. Não vou dizer que queria ter perdido meu voo (muitas horas devem separar o Rio de Janeiro de Big Field), mas fiquei com uma certa invejinha da sua aventura (pós-desespero). Queria ter farofado na Praia da Barra com vocês e passado o 4 de maio com quem criou a ideia in the first place. Achei linda a história do ano começar de novo e rogo para que este maio ruim para muitas de nós seja apenas aquele janeirinho velho de guerra que quase sempre é meio cagado, mas reserva um ótimo ano. Seu post ficou lindo, amo você e estou com saudades <3

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