sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Transmissão de pensamento com Meg Cabot

Minhas aspirações literárias, pelo que me lembro, começaram quando eu tinha 9 anos. A professora pediu que escrevêssemos uma narrativa de tema livre e eu fiz. Ela pediu uma página, eu escrevi quatro: praticamente uma fanfiction de Mulheres Apaixonadas. Sim, a novela. Me apropriei do universo do Maneco e reescrevi uma parte da história da maneira como achava que a novela deveria ser. Pra vocês verem que eu nunca fui criativa o suficiente pra inventar uma trama ou um núcleo de personagens por minha conta. Aos 10, criei uma """companhia de teatro""" com minhas amigas. Com o Stúdio A - de Amanda, Anaisa e Anna Vitória - escrevi muitas peças, sendo que apenas 3 delas foram montadas, 2 com fantoches e a outra com o pessoal da minha classe.

Aos 11, resolvi que era hora de voar mais alto: iria escrever um livro. Lembro vagamente de ficar algumas semanas envolvida com ele, tinha uma ideia clara na minha cabeça do rumo que queria que a história tomasse, mas minha maior dificuldade é que não fazia a menor ideia de como chegaria lá. Acho que foi isso que me fez desistir e não pensar novamente nesse livro até hoje. Estava lá, assim como eu o havia deixando em 2005, "Históriua" (sic), um arquivo do Word de 97 páginas protegido por senha - na época em que escrevi, dividia o computador com meu pai e a ideia de que alguém leria aquilo sem eu saber me deixava em pânico - todo escrito em Comic Sans e com problemas seríssimos de pontuação.

Li uns pedaços e me diverti muito com a história, ou melhor, com a minhas ideias tão ingênuas e rasas e minha total incapacidade de construir uma linha narrativa. Dei muita risada! Eu não sabia usar vírgulas e minha escrita misturava momentos muito coloquiais, cheios de gírias (algumas, confesso, não me lembro direito o que significavam), com outros muito rebuscados e forçados, onde eu provavelmente tentava incorporar o estilo de alguém que havia lido e gostado. Mas o que mais me surpreendeu foi o conteúdo da história em si.

Meu "livro" contava a história de Alessandra, uma garota de 14 anos que era a ovelha negra da família e uma maria-ninguém. Sofria da maldição da filha do meio, ficando perdida entre sua irmã mais velha, Raquel, linda, loira, bailarina e perfeita, o xodó da mãe - uma perua famosa -, e a mais nova, Helena, um prodígio intelectual, mais parecida com um robô (lembro que me inspirei na Ray, de Grande Menina Pequena Mulher, com a diferença de que ela era obcecada por ballet e minha por física e Albert Einstein), a queridinha do pai, enquanto a personagem principal era péssima de modos, postura e Matemática. Pra completar, Alessandra era apaixonada pelo melhor amigo de sua irmã, que depois viria a namorá-la, Daniel. A história começa com Alessandra descobrindo que seu amado está namorando e ela e suas amigas tentam descobrir com quem, enquanto, para tentar esquecê-lo, Alessandra começa a namorar o irmão de sua melhor amiga.

Enquanto lia, comecei a me lembrar de um livro da Meg Cabot, A Garota Americana. Para quem não sabe, ele conta a história da Samantha, uma menina que tambem é filha do meio sem aparentemente nada de especial que sofre com suas irmãs, uma linda e a outra inteligente, e é apaixonada pelo namorado da irmã mais velha. Os pais de Sam a obrigam a fazer aulas de arte, enquanto Alessandra é obrigada a ter aulas de etiqueta. As duas amam coturnos e seus estilos são mal compreendidos; Sam é obcecada por No Doubt e Alessandra é fã de Green Day. Aliás, na minha cabeça, quando o Daniel se apaixonasse por ela, faria uma serenata e tocaria Extraordinary Girl. Aos 11 anos, Green Day era minha banda favorita. 

Achei essas coincidências engraçadas e fiquei pensando que tinha "me inspirado" no livro da Meg Cabot para escrever minha história, uma vez que original eu nunca fui mesmo, mas fuçando nos meus arquivos de livros lidos, que eu sempre anoto, vi que li A Garota Americana aos 14 anos. Na última página da minha história, tem a letra de Shadow, uma música da Ashlee Simpson, que me fez lembrar que foi ela que me inspirou para escrever essa história. Uma música da Ashlee Simpson. O tom da história era uma mágoa de cabocla com humor auto-depreciativo do início ao fim. As revelações desse post vão ficando melhores a cada linha que escrevo.

Convenhamos que as duas sinopses não fogem muito dos clichês - tirando a parte que na história da Meg, Samantha salva sem querer o presidente dos Estados Unidos e vira embaixadora da ONU - mas achei graça dessa confluência de ideias. Gostava (e ainda gosto) muito dos livros da Meg Cabot, e minha pré-adolescência foi cheia deles. Não lembro se aos 11 anos já tinha lido O Diário da Princesa, mas quando mais nova meu sonho era escrever um livro adolescente fofo e divertido que nem os dela, e não duvido muito que a minha "Historiua" tenha sido uma tentativa fracassada disso. 

O melhor mesmo foi ver que, graças a Deus, aprendi alguma coisa com os anos. Me conformei que, por exemplo, não tenho pique para escrever um livro inteiro, e acho muito difícil que consiga fazer qualquer coisa relacionada com literatura, já que não tenho criatividade para tanto. Tudo que tenho escrito desde então é, de alguma forma, inspirado em algum outro texto, música, filme; preciso de uma ideia original construída por outra pessoa para conseguir alavancar minha inspiração e isso é um bocado frustrante, embora já tenha aceitado o fato. Adorei ter encontrado essa história, porque não tem nada melhor que rir de si mesmo no passado. Fiquei um pouco com vergonha das minhas ideias, da falta gritante de vírgulas e o excesso de exclamações e reticências, alguns "viajem" que flagrei ali e, principalmente, da lembrança de que algumas pessoas de fato leram o texto e ainda por cima disseram que estava ótimo. 

Uma delas foi uma amiga virtual (já tinha blog nessa época), que era mais velha que eu, de modo que imagino que estivesse mentindo e rindo muito da minha cara por trás ao dizer que adorava a história; ela, inclusive, anos depois, me deixou um recado de feliz aniversário e disse que até hoje se lembrava das aventuras da Alessandra. Meu pai leu também, e disse que estava indo bem, e isso fez com que eu me sentisse muito amada. Não há ninguém no mundo como nossos pais para nos acharem sempre lindos e inteligentes, não é?

A parte mais engraçada e constrangedora do que eu escrevi foi um capítulo em que o Daniel contava que stalkeava o Orkut (!) da Alessandra e ela entrava em pânico porque tinha um monte de comunidades meio emos, estilo "Quem me ama não me quer", e ficou com medo de que ele desconfiasse do seu amor platônico. Cadê meu Jabuti?

17 comentários:

  1. Nossa, nao pude deixar de rir, mas me identifiquei muito com a sua situação. Você sabe que nos ultimos dois anos venho escrevendo um livro, mas agora, lendo o começo novamente, também me diverti um pouco com a falta de profissionalismo..... Mesmo assim ainda espero meu premio nobel de literatura, até hoje!!

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  2. HAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHA
    adorei esse post, principalmente o final: cadê seu Jabuti, hein? hahaha
    é uma delícia descobrir essas coisas escondidas da nossa infância. dá pra rir um bucado mesmo.
    quando você começou a contar a história de Alessandra já sabia que era parecida com A Garota Americana (eu realmente gostei desse livro, tanto que fiz margaridas no meu all star de cano alto. sim, eu tinha um all star de cano alto!).
    também tenho o mesmo problema em criar personagens e enredos originais, tomara que um dia a gente aprenda, né?
    beijitos

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  3. Você escreve incrivelmente bem, e seu humor está ficando a cada post melhor. Sério. Fica até repetitivo dizer isso, mas é impossível começar diferente...

    Fiquei imaginando um texto todo escrito em Comic Sans, com virgulas faltando e exclamações sobrando... Algo que todos já passamos. E as comunidades no Orkut são algo que mereciam serem lembradas. (Hahaha)
    Como disse no meu último post, também gostaria de encontrar uma história que escrevi quando menor. Certamente sentiria as mesmas coisas que você... É engraçado como passamos a perceber a vida completamente diferente com o passar dos anos.

    Beijo!

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  4. Quando eu estava na oitava série eu também escrevi um "livro". Só que não foi bem um livro, na verdade, foi só um conto MUITO extenso. Quase um romance, mas não chegava a isso. De todo modo, escrevi algo parecido com um livro, que não chegou a ser publicado, obviamente. Não foi sequer lido por outras pessoas porque o meu lance sempre foi escrever e escrever só pra mim. Foi só um conto-bem-longo-quase-romance-mas-não-isso que eu rabiscava na última matéria do caderno, em meio aos desenhos, nos momentos ociosos do colégio (leia-se: aulas chatas de ensino religioso). E aos 14 anos eu tinha mais horas vagas do que hoje, até porque ainda não tinha namorada, ainda não tinha que trabalhar... entre outras coisas.

    Queria muito ter esse caderno hoje. O caderno onde eu escrevi o tal conto. A idéia da história era muito boa, modéstia à parte, coisa de gênio. Era uma ficção espacial bestinha com muitos diálogos pedantes e, se não me falha a memória, tinha uma parte sobre a mutação genética que transformava uma salamandra em um dragão. Na época, eu lia muito a coleção Sete Faces e os meus livros preferidos eram o Sete Faces da Ficção Científica e o Sete Faces da Ficção Espacial. Então acabei escrevendo uma pequena ficção espacial mesmo.

    O fato é que o meu estilo (inexistente, diga-se de passagem) de escrita atual já não é exatamente algo de muita qualidade. Naquela época, então, era pior ainda. De lá pra cá, acho que fiquei um pouco menos pior. Mas era meu livro, velho! Que eu escrevi. Na munheca. Por alguns longos e tenebrosos meses, pelo menos eu acredito que tenha durado mais ou menos esse tempo. E que ficou muito foda. Queria eu ter 14 anos de novo...[NÃO]

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  5. Anna, você tá ferrada porque agora eu quero ler esse texto! Hahaha, brincadeirinha (: Eu detesto esse livro da Meg Cabot, apesar de gostar de muitos outros, mas se você for pensar, as histórias dela são MUITO simples e corriqueiras. Ela só tem a sorte de saber soar como uma melhor amiga e escrever coisas tão gostosas de ler... porque coisa muito elaborada, não é. Por isso acho normal você aos 11 anos ter escrito algo parecido com algum livro dela. Aliás, tenho certeza que a Alessandra era bem mais bacana que a Sam - que eu acho uma chata de galochas, ops, de coturnos! Beijo!

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  6. HAHAHA, ficou demais a sua postagem Anna! Me identifiquei bastante porque lembrei da minha tentativa de criar um livro de história (!): o arquivo ainda está perdido no computador antigo e os textos estão em letra tamanho 18, com várias cores e imagens que eu devo ter pego em algum lugar no primórdio da internet. Sem falar dos inúmeros "contos" rebuscados que eu escrevia.
    É muito bom vasculhar esses arquivos antigos só para sentir uma pontinha de vergonha pelo seu passado e orgulho do que se é hoje (apesar que, daqui alguns anos, acho que também vou rir de algumas coisas que tenho escrito no blog, haha).

    Beijos.

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  7. Ai que gostoso isso.
    Eu também tenho algumas histórias vergonhosas guardadas aqui, gosto de reler as vezes.
    Sei bem como é só ter idéias a partir de outras coisas, quando penso em escrever algo só vem inspiração depois de ler algo que desencadeou aquela idéia, mesmo não tendo nada a ver.Frustante mesmo=(.
    ps: Viva Meg Cabot!

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  8. Muito bom esse post! É maravilhoso encontrar textos que escrevemos há muito tempo e rirmos de nossa tamanha ingenuidade. Incrível perceber que cometíamos erros tão toscos. Sempre acontece comigo quando resolvo reler meus diários, por exemplo. Acabo morrendo de rir e com vontade de mostrar pra alguém, mas com vergonha demais para realmente fazer isso.
    Quanto a sua relação com a Meg Cabot, muito curiosa essa coecidência! Eu ficaria assustada.
    Acho realmente difícil conseguir escrever textos sem se basear em algo antes, está aí uma coisa que nossos professores de redação deveriam tentar ensinar com mais afinco, eu adoraria ter capacidade literária para me tornar escritora um dia, parece tão legal!
    Enfim... Muito bom o texto! Beijos

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  9. Nossa até me assustei também,as histórias são bem parecidas mesmo! Fiquei curiosa pra eler a sua hitouria rsrs não acho que tenha ficado tão ruim,eu já escrevi umas bem piores que acabei perdendo nesses disquetes (isso ainda existe?) da vida rsrs!
    Beijos

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  10. Que bom que o arquivo não se perdeu mesmo depois de tanto tempo! Também fico curioso pra ler, confesso que até esperava um trechinho maior das 97(!!!) páginas no final do post... rs
    Eu ainda acho que você tem ao menos uma parte de uma alma escritora. Por mais tosco que possam ser seus escritos da pré-adolescência, você evoluiu muito rápido! Alguns contos que você escreveu com 15 anos já arrancam lágrimas de tão poéticos e verdadeiros. Você se inspira em algo que viu e ouviu? Ora, quem não?! Todos, desde os escritores mais renomados, têm sua fonte de iluminação... às vezes uma situação pela qual passaram, às vezes uma "musa" inspiradora e tal... Não acredito que seu pai estava apenas sendo gentil quando disse que você estava no caminho certo. Você tanto estava que hoje escreve coisas belíssimas e confia em si para seguir uma carreira na qual o que conta é sua habilidade na escrita.
    Na sua resposta ao meu primeiro comentário aqui (quase exatamente um ano atrás(!) \o/) você dizia isso: não se achava capaz de escrever um livro inteiro. Eu duvido. E muito, viu! Acho que, na hora certa, você vai surpreender a todos...
    Só não acho que vá ser algo no rumo da Meg Cabot. Os livros dela podem ser excelentes, mas, como disseram ali em cima, falta profundidade neles - e eu, apesar de não ter lido nada dela, concordo com o comentário.
    Eu já não tenho (infelizmente :( ) uma história assim. Meu reduzido vocabulário de pré-adolescente foi gasto com poesias e contos/redações para escola. Muita coisa que eu escrevi e gostei do resultado ficou perdido lá com a minha professora de redação. Mas com o pouco que guardei já dá pra fazer essa comparação entre o eu passado e presente e é realmente divertido e animador você ver sua evolução... :P
    Dia desses, vendo papéis antigos, achei um desses textos de anos atrás. Mal escrito, mas achei a história tão curiosa, que sentei e reescrevi. Se animar, posto no blog.
    E não precisa mesmo ter vergonha da Anna no início da adolescência. Ela é responsável pelo que você se tornou hoje... ;)
    Beijo

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  11. Anna quem sabe com uma boa revisada nas vírgulas hauhauha você pode até conseguir publicar esse livro? Convenhamos que não temos muitas autoras para falar de universo adolescente. Acho que seria uma boa, você deixou todo mundo curioso p/ ler a história hauhauah e eu gosto muito da Meg, ela é uma das minhas autoras favoritas.
    Beijinhos!

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  12. Então Anna uma vez também tentei escrever um livro, mas como sou extremamente ansiosa, não conseguiria contar uma história assim, cheia de rodeios como acontece nos livros sabe!
    Mas é divertido encontrar esses escritos de anos atrás não é?
    Beijos

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  13. Aaah que vontade que deu de ler teu livro!
    Tenho vários livros inacabados no meu computador e em cadernos espalhados pela casa. Nunca cheguei nem perto de terminar nenhum, mas ainda tenho esperança. A minha vontade de publicar um livro é muita, por isso eu acho que um dia vou me obrigar a terminar alguma história. :)
    Adorei de paixão teu texto. Me deu vontade de ler as minhas histórias antigas, apesar de ficar um tanto assim porque sei que vou morrer de vergonha. haha
    Beijo, Anna. :)

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  14. Ain, hahaha. Ô mulher, eu assim como você, fico dando pulinhos internos de júbilo e orgulho de mim mesma quando, por alguma razão, percebo que amadureci. E também fico rindo e sentindo vergonha do meu passado quando lembro que algum fato muito desdourador, haha. Enfim... não se cobre tanto por aquela época, você só tinha 11 anos... Eu também tentei escrever num livro mais ou menos nessa idade, e não lembro bem, mas era algo como 'Relógio de Areia'. Ficou bem claro que eu me inspirei numa ampulheta, né? Que triste.

    ;*

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  15. Ai ai, me diverti com esse post Anna!
    Talvez você devesse escrever crônicas *--* várias histórias num mesmo livro...

    Bem, meus textos, meus projetos de livros também eram salvos com senha (nunca gostei que outras pessoas lessem meus "Livros"). E lembro que me perdia no meu emaranhado de personalidades e caminhos que ia criando... ai surgia outra idéia e eu largava tudo e ia atrás e tudo se repetia...

    Eu ainda quero escrever um livro, mas não sei bem sobre o que, então vou deixando... uma hora eu escrevo! :)

    Parabéns por mais um texto divertido e cheio de charme! :D

    Beijão!

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  16. Studio A é o nome de um motel aqui de São Paulo, sabia? hahah... você já tinha me contado desta cia teatral... acho muito ótimo estas invenções suas e o fato de você as colocar em prática. Eu tenho muitas idéias e todas ficam no papel... rs....
    Ainda acho que você vai descobrir este caminho (que eu também não descobri ainda) para conseguir escrever um romance. Seja como e sobre o que for.
    beijo grande

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  17. FIRST: DON'T YOU DARE to tell that you are not original. WTF!? E os seus continhos fofos?! Tome jeito, Anna Vitória! Você JÁ É uma das minhas escritoras prediletas. E coloque na cabeça uma coisa: NADA nessa vida é completely original. A gente tá sempre sendo influenciada e pegando inspiração em alguma coisa!

    Você já é uma das minhas escritoras favoritas!


    BJS!

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