domingo, 8 de julho de 2012

Aquele com o bolo triste


Postei aqui no fim do ano passado que um dos meus objetivos simples futuros seria aprender a fazer bolos e pães. Tenho todo esse ímpeto culinário reprimido, o qual alimento de forma inconsequente pela quantidade de programas de culinária que assisto e pelo amor que devoto pelo caderno de gastronomia da Folha de São Paulo, especialmente pela coluna da sensacional Nina Horta. Digo reprimido porque, para ser sincera, eu cozinho muito pouco. Não conto sanduíches, omeletes, brigadeiros e pipoca, ou seja, aquilo que faço corriqueiramente, como o ato quase poético de cozinhar que eu imagino quando vejo Nigella e Jamie Oliver ou então quando leio a Nina Horta. Eles parecem falar de uma outra dimensão muito mais interessante do que o simples preparo de um hamburguer numa noite de sexta. Cozinho pouco porque me falta orientação. Mamãe cozinha e cozinha muito bem, mas não gosta. Não tem paciência pra me ensinar. Aliás, ela bem que tem vontade de me ensinar a cozinhar feijão mas, francamente, existe coisa mais sem graça do que aprender a preparar feijão? Já minhas avós, cozinheiras de mão-cheia, tem em boa vontade o que lhes falta em didática culinária: ao invés de me ensinarem a fazer, ficam apenas urubuzando e tentando fazer por mim. Também não me serve. E portanto eu não cozinho.

Entretanto, relendo os posts mais lidos aqui do blog, me deparei com aquela lista que fiz em outubro do ano passado com pequenos objetivos para o ano de 2012, pensando em fazer uma espécie de prestação de contas sobre o que fiz e deixei de fazer. Dentre as coisas que eu poderia ter feito, acabei deixando de lado o objetivo de aprender a fazer tortas e pães. Pensando nisso, nessa primeira semana de férias, resolvi que faria um bolo. Porque é meio complicado querer fazer torta quando nem um bolo se consegue preparar, certo? Gosto de ir por partes. Assim sendo, escolhi a receita clássica do bolo de chocolate da minha avó, fui ao mercado comprar os ingredientes e iniciei minha missão.

Como disse na lista de uns meses atrás, tenho certo trauma com bolos. Na primeira vez que fui tentar fazer, meu lindo bolo de chocolate virou uma massaroca nojenta, meio crua e meio queimada, murcha e disforme. Além de não saber que é terminantemente proibido abrir o forno enquanto o bolo está lá dentro, eu ainda tirava o bendito inteiro do calor, examinava, enfiava o garfo, abusava mesmo. O resultado foi uma coisa nojenta que teve de ir direto para o lixo. Foi um trauma. Foi uma humilhação ímpar. Não sei dizer quanto tempo faz que isso aconteceu, mas posso garantir que no mínimo quatro anos. E eis que então resolvo enfrentar o trauma e me aventurar nos bolos novamente. Receita em mãos, ingredientes preparados, comecei a agir.

O processo foi tão tranquilo e eficiente que eu realmente achei que chegaria lá. A massa ficou bonita e cheirosa. Eu consegui me organizar, manter a cozinha arrumada e limpa, e quando coloquei o bolo pra assar consegui o incrível feito de ter cozinhado sem me sujar. Dava até gosto de ver aquela massa lisinha, de um tom tão elegante de marrom, indo para o forno. Coisa linda. Organizei o tempo perfeitamente para que eu começasse a fazer a cobertura exatamente no tempo de, quando ela ficasse pronta, o bolo saísse do forno e eu a adicionasse bem quente, como manda a receita. A cobertura também ficou linda e deliciosa. Então chegou a hora da minha prova de fogo.

Pra quem não assiste Que Marravilha!, o programa de culinária em que o Claude Troigrois ensina as pessoas a cozinhar e depois deixa que elas façam o prato sozinha, a Prova de Fogo é uma etapa da receita em que o participante mostra certa dificuldade. Se ele passar por ela, ganha pontos extras. Se ele errar, perde pontos, ou algo do tipo. Num episódio, uma menina que tem horror de mexer com carne crua teve de desossar um frango inteiro. A Prova de Fogo não é fácil, e a minha envolvia uma situação muito delicada. Se fosse participante e o programa um pouquinho mais sensacionalista, certamente me fariam dar um depoimento emocionado rememorando o episódio do bolo murcho, quem sabe com os olhos marejados. Enquanto eu estivesse sentada diante do forno, com o timer em mãos, acompanhando os minutos finais dele ali, Claude certamente diria, numa narração em off, que aquele era o momento decisivo em que eu me colocaria diante do trauma do passado, e um intervalo comercial viria logo depois da fatídica chamada: Será que Anna Vitória conseguirá dessa vez?

Anna Vitória esperou o timer apitar e tirou do forno um bolo lindo, crescido e cheiroso. Despejei a cobertura gostosa e fui me entreter com alguma outra coisa feliz e saltitante, esperando o bonito esfriar. Eis que quando, alguns minutos, depois retorno à cozinha, uma surpresa: meu lindo e gordo bolo tinha perdido quase metade do seu tamanho. Além de ter encolhido, ele estava fino. Ou seja, novamente, meu bolo murchou. Perdi minha Prova de Fogo. Meu coração partiu-se novamente. O desgosto foi tão enorme que nem vontade de experimentá-lo eu tive. Quando mamãe chegou em casa foi boazinha o suficiente para comê-lo, mesmo sabendo que não seria lá tão bom. Embatumado, foi esse meu veredito. A cobertura ficou sensacional e isso salva, mas mesmo assim não tenho vontade de comê-lo. Olho ele ali, todo pequenino e frágil, e só consigo pensar: cara, que bolo triste.

Eu queria um bolo lindo e alegre, um bolo gordo, alto, doce e molhadinho, com cara de férias. A única coisa que consegui foi um bolo triste, tão triste quanto os bolos tristes que se vendem nas biroscas desafortunadas das esquinas deprimentes, que a gente um dia inventa de comer na esperança de trazer um pouco de alegria para a rotina desditosa só mesmo para concluir, com muito pesar no coração, que pagou provavelmente caro por um bolo triste que nada tem a ver com descontração e muito menos com férias.

Claude Troigrois, meu descontentamento ainda não chegou ao ponto em que tenho coragem de enviar um vídeo pro teu programa implorando para que você me ensine a fazer bolos, mas, se por um caso você vir a ler isto, saiba que faria o maior gosto em ser ensinada por você e juro que serei uma boa menina e procurarei não te decepcionar na minha Prova de Fogo. A esperança é a última que morre.

EXPECTATIONS


REALITY



Sobre a pegadinha da troca de títulos do post passado, para aqueles que ainda não adivinharam, o primeiro Me Fiz Em Mil Pedaços da blogosfera foi de autoria da bela e querida Taryne, do Doces Rodopios. O texto dela tinha uma pegada bem diferente, e apesar de que, para os familiarizados com o blog dela, minha escolha ter sido óbvia porque o post é recente, não consegui escolher outro sendo que estava diante de um título tão lindo, que iniciava um post igualmente fantástico. Para quem não conhece o post ou o blog da Tary, recomendo fortemente. Fiquei muito feliz de ter saído com ela, que além de ser uma blogueira que admiro, é uma amiga que amo demais. <3 

16 comentários:

  1. Já falei que você é incrível hoje? Que relato, Anna! Sabia que não estava fazendo besteira quando ordenei/implorei que você fizesse um post contando sobre seu bolo triste. Porque jamais eu saberia pelo telefone de toda essa história do programa. E eu consegui ouvir o off do cara falando que essa era sua prova de fogo e "Será que você conseguiria dessa vez", só que como eu nunca vi o programa, não conheço a voz dele, e imaginei tudo com a voz do Lombardi. A coisa ficou um pouco tensa.
    Mas eu comeria seu bolo embatumado, até porque, isso não quer dizer que eles não ficam gostosos. A mãe da Anna e da Marina diz que enquanto ela está grávida, todos os bolos dela ficam embatumados, mas que são os melhores que ela já fez em questão de sabor!
    E uma menina que consegue escrever um texto desse, consegue fazer um bolo de chocolate. Eu nunca tentei, mas eu consigo danar até miojo, gata (que o dito cujo não me ouça se estiver esperando casar com uma mestre-cuca...)
    Beijos!! Te amo! <3

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  2. Nossa, Anna, eu adoro cozinhar! Meus bolos ficam melhores que os da minha mãe, até porque, é muito raro ela fazer algum doce, e olha que dificilmente eu cozinho, porque tenho muita preguiça. Sempre que penso em fazer um bolo, já penso na louça e acabo fazendo só um brigadeiro ou um bolinho de caneca, com o maior cuidado pra sujar o mínimo de coisas.
    Não desista da sua missão, tenho certeza que ainda vai fazer um bolo super gostoso e feliz. E, ah, é como dizem, às vezes o que dá errado é o que fica melhor!

    Beijos

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  3. Ai que tristeza! Sei como é isso, eu não sei fazer nadinha e minha mãe não tem paciência porque ela cozinha muito bem, sem querer puxar saco a comida dela é uma das melhores hahaha. Eu nunca tentei fazer um bolo ou algo do tipo. No último dia das mães, eu e minhas irmãs fomos fazer um prato para o almoço, ficou uma coisa linda sabe hahaha. Eu adoro assistir esses programas de culinária que passam no GNT, tem até um novo que é muito legal e as receitas são super simples e fáceis, acho que é por isso então que eu assisto um monte mas não cozinho haha. Beijos

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  4. Achei seu blog no "volta mundo blogueiro" e sinceramente amei seus textos,e tenho certeza de que você será uma ótima jornalista. Sobre o post, sinceramente esses são traumas que dão muita tristeza. Eu nunca tentei fazer um bolo (ainda) mas eu também tenho vontade de fazer,porém a preguiça não me permite kk. Mas é aquela coisa, com a prática se chega a perfeição, então não desista! Continue tentando que logo você vai conseguir fazer um bolo alegre e enorme!
    Beeijos

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  5. Adoro como você consegue pegar uma coisa tão corriqueira (fazer um bolo, no caso) e transformar num texto tão legal!
    Tenta fazer mais fazer, ir pegando a prática, acho que é bem comum isso acontecer com bolos, deve ser detalhe :)

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  6. Anna Vitória Rocha, minha maior felicidade na vida seria um dia descobrir que por um acaso do destino fossemos aparentadas. MENINA! QUE TEXTO INCRÍVEL! HAHahahahahah e super divertido! Eu tambem adoro cozinhar apesar de faze-lo muito pouco, eu sempre gostei de fazer bolos e acho que os faço até que decentemente! Espero que voce não desista dos seus dotes culinários e que um dia faça um bolo tão gostoso que vai deixar as mães mafiosas no chinelo hahahahahaha :3

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  7. Desculpa, mas adorei a ideia de você ter tido novamente uma esperiência triste com seu bolo, porque entre um bolo de chocolate e um bom post, tenho preferido o segundo ultimamente!!!

    Adorei!

    Beijinhos e até!!!

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  8. Desculpa, mas adorei a ideia de você ter tido novamente uma esperiência triste com seu bolo, porque entre um bolo de chocolate e um bom post, tenho preferido o segundo ultimamente!!!

    Adorei!

    Beijinhos e até!!!

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  9. Primeiro: PARA TUDOOOO VC ASSISTE QUE MARRAVILHA!!EU AMOOO O CLAUDE,E AMOOO O PROGRAMA! Agora sim, rsrs, em segundo lugar: vivi uma exepriência igual a sua semana passada, e o pior é que era aniversário da minha mãe e eu encasquetei que faria o bolo, não deixei meu pai comprar e fui lá toda metida á la France, fazer o bendito do bolo, eu adoro fazer sobremesas, macarrão, purê, essas coisas básicas que sempre dão certo e tdo mundo elogia, mas bolo nunca foi meu forte, o problema é que sempre esqueço disso e sempre achao que vai ficar bom. Imagina que ele ficou solado, baixinho, nada daquela fofura apetitosa das propagandas de TV, totalmente triste, mas na verdade eu achei mesmo o meu bolo feio, até apelidei ele de Cássio, o goleiro do Corinthians rsrs, desisto!
    bjos

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  10. Quase chorei lendo esse teu drama todo! Partiu meu coração aqui! Minha mãe é super triste com o fato de eu não ter interesse estupendo pela cozinha enquanto minha prima é formada em gastronomia e a outra tratou de fazer um curso de culinária básica eu sequer consigo fazer arroz. Não consigo MESMO. Mas sou mestra em doces, faço bolo melhor que a minha mãe, que atualmente só sabe fazer de caixinha. Porém eu fui tentar fazer um na batedeira e acabei por estragá-lo, embatumou e fiquei deprê. Pior que foi justo o bolo do aniversário do meu irmão! Ainda bem que a cobertura ficou boa. Coberturas sempre me salvam, porque em brigadeiro e afins sou mestra! HAHAHA Agora torta? G-zuis deve ser difícil demais, ainda mais aquelas com massa folhada! E pão é fácil pq tem panificadora aqui em casa, só botar os ingredientes e pronto! HAHAHA
    <3

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  11. Uai, mas foi só isso, só murchou? Não queimou nem nada?
    Deixa de preconceito com seu bolo, que deve ter ficado é bom demais! hahaha Bolo pra mim é válido de qualquer jeito e com qualquer recheio! (embora um de cenoura com chocolate seja quase insuperável)
    Deixo aqui minha sugestão pra que você sorteie um pedaço entre os seus seguidores do blog... hehe :)

    PS: Arranje um noivo e já pode casar! :P

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    1. Adônis, como você é bonzinho. Ficou embatumado, filho. Isso é muito ruim! Fui comer um pedaço ontem e nem consegui comer tudo. Tá mesmo triste.
      :~

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    2. Vish! nunca tinha ouvido essa expressão "embatumado", mas pelo nome não deve significar nada bonito...

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  12. Nunca tentei fazer bolo. Quem sabe um dia!
    A verdade é que prefiro um brigadeiro, pq meu bolo nunca vai ficar perfeito...

    E porque por 2,50 posso comprar uma deliciosa nega maluca num café que tem dentro da ufsc. EIKE SAUDADE DE COMIDA BRASILEIRA (bolos aqui tem basicamente creme de leite - que é mais doce aqui - e aquele confeite branco horrivel eca)

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  13. Nossa, adorei seu post! Sério, cada vez você está escrevendo melhor e é incrível como você transforma algo tão simples em algo fantástico. De qualquer forma, também não sei cozinhar. E nem tento porque sei que vai ser decepcionante. Para você ter uma ideia, só consegui acertar o miojo na terceira tentativa, já que na primeira ele ficou aguado e na segunda ele ficou meio duro. Porém, acho lindo cozinhar. Poder fazer coisas deliciosas e bonitas e encher os outros de felicidade. Mas também gostaria de aprender a fazer pratos legais e não feijão e arroz ):

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  14. O post ficou todo genial como sempre e bolos também não são lá meu forte na cozinha - Giovanna é que tem surpreendido nessa área! -, mas o que eu preciso comentar mesmo é o último trechinho do post, né?

    Porque eu quase morri de tanto amor, claro! Posso emoldurar, gente? Poxa, fiquei feliz de verdade em ler isso, Annokita! Porque você TAMBÉM é uma blogueira que eu admiro horrores e uma amiga que amo demais <3

    Ai, ai, ainda faltam 38 dias pra agosto, produção?

    <333

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