D'onde estava, confortavelmente acomodado no sofá amarelo, com os pés esticados no pufe a sua frente, via no chão uns fios de cabelos escuros, feitos em ondas, espalhados. Via também o começo de uma testa, sobrancelhas, e quase poderia flagrar um par de olhos não fosse o jornal o aberto em página dupla que, da maneira como ela se ajeitava, cobria-lhe quase todo o tronco permitindo que dos membros superiores fossem vistos somente os quatro dedos de cada mão nas extremidades do periódico. Após o fim da folha era possível ver acima dos joelhos redondos a barra não feita do que outrora fora uma calça mas que dela trazia somente os fiapos restantes da metade inferior amputada, dando-lhe ares de bermuda; se avançasse mais os olhos observaria, apoiados no sofá, os finos pés e as unhas pintadas de cor de laranja.
Fingindo olhar na tv muda o futebol, ele acompanhava o ritmo da mudança de páginas do jornal diminuir, os dedos segurarem as pontas com menos determinação - sinal de que os olhos também já começavam a ceder por detrás do caderno de Literatura. E mesmo sem ver a redenção dela ao cochilo vespertino, ele intensificava a suavidade com que lhe afagava as canelas finas para que logo se desse, por fim, a entrega; quando os dedos folgassem de vez e o jornal lhe caísse na face, ele então o recolheria e poderia, do lugar onde estava sentado, admirar-lhe o rosto por inteiro.
(Eu tinha a nítida lembrança de ter pensado nesse fragmentozinho enquanto lia o jornal preguiçosa na cama numa manhã de domingo, mas não me lembrava que o tinha de fato escrito. Eis que o encontro no meio do meu caderno de Geografia. Pequeno e bobinho, só pra dar uma arejada nessa semana de provas turbulenta.)
Fingindo olhar na tv muda o futebol, ele acompanhava o ritmo da mudança de páginas do jornal diminuir, os dedos segurarem as pontas com menos determinação - sinal de que os olhos também já começavam a ceder por detrás do caderno de Literatura. E mesmo sem ver a redenção dela ao cochilo vespertino, ele intensificava a suavidade com que lhe afagava as canelas finas para que logo se desse, por fim, a entrega; quando os dedos folgassem de vez e o jornal lhe caísse na face, ele então o recolheria e poderia, do lugar onde estava sentado, admirar-lhe o rosto por inteiro.
(Eu tinha a nítida lembrança de ter pensado nesse fragmentozinho enquanto lia o jornal preguiçosa na cama numa manhã de domingo, mas não me lembrava que o tinha de fato escrito. Eis que o encontro no meio do meu caderno de Geografia. Pequeno e bobinho, só pra dar uma arejada nessa semana de provas turbulenta.)
Sabe que isso daria um bom curta-metragem?
ResponderExcluirImaginei toda a cena direitinho, numa vibe meio "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" (não que esse filme seja um curta, né)...
Enfim, gostei!
Gostei da simplicidade e da subjetividade.
Beijos, Anna!
Acho que desde que visito o seu blog, é o primeiro texto não tão pessoal seu que eu leio - bem simples, bem delicado e muito bonito. Gostei :)
ResponderExcluirBeijão, Anna!
Como sempre acontece, adorei esse texto. Eu consegui imaginar exatamente a cena, e é isso que me faz gostar mais de um texto. Se eu não consigo imaginar, provavelmente não vou gostar.
ResponderExcluirBeijos.
Você escreveu?
ResponderExcluirA cena é tão detalhada e bem escrita que deu pra imaginar direitinho. Que jeito, hein, escritora!? Adorei ^^
Eu adorei!!!!!!!
ResponderExcluirVc é boa menina...Parabéns!
Hum, que trechinho gostoso de ler! Voltarei mais vezes!
ResponderExcluir'pequeno e bobinho'
ResponderExcluirpois me ganhou.
Uma graça esse texto, parabéns!
ResponderExcluirQuero continuação *-* . UAHAUAHAU , e ao mencionar esmalte laranja, me lembrou que eu mesma pretendo pintar minhas unhas dessa cor!
ResponderExcluirBeijos Anna :*
Mais um comentario quase igual aos outros, ficou mto legal, bem escrito e justamente por todos os detalhes que faz a gente viajar do lado de ca!
ResponderExcluirConcordo com o 1 comentario, daria um curta! ;)
Beijos Anna e otimo fds.