Eu sou aquele tipo de pessoa que na hora do oba-oba se envolve em um monte de atividades e depois, quando precisa arcar com as responsabilidades delas, fica louca, estressada, se arrepende amargamente de ter se envolvido e jura nunca mais se meter com nada, nenhuma atividade extracurricular e organização de qualquer coisa que seja. A verdade é que até a manhã de quinta-feira eu estava amaldiçoando o dia em que resolvi me inscrever pro SimuNa, que é um simulado de relações internacionais organizado pela escola que eu estudo. Nessa atividade nós alunos viramos representantes de diversos países e nos reunimos em diversos comitês para discutir as questão em pauta de cada um. Por quatro dias deixamos de ser nós mesmos para sermos os senhores e senhoritas Delegados(as), abraçando e defendendo uma cultura e política diferentes das nossas, que nem sempre estamos de acordo.
E olha, mesmo cansada e esgotada depois dessa maratona, digo que me arrependo, hoje, do dia em que eu declarei que só iria participar porque já tinha pago minha inscrição. Foi tudo muito, muito legal! Meu comitê era o do Conselho de Direitos Humanos, que estava se reunindo para discutir as práticas de tortura no mundo. Bem, eu representava a China. Num comitê contra a tortura. Sabe, a expressão "tortura chinesa" não existe por acaso. A China é um país que até hoje tortura pessoas a torto e a direito, com respaldo do PCC, que além de tudo encobre esses casos,á que a legislação chinese proibe a tortura.
No começo estava morrendo de medo, por razões óbvias. Repetindo: eu era a China, num comitê de Direitos Humanos, discutindo sobre a tortura. Existia um alvo desenhado na minha testa. Pra mim o mais legal nessas simulações é você ser obrigada a defender uma coisa que você não aceita ou acredita. É necessário que você abrace completamente a visão do país, eu entrava naquela sala e não era mais a Anna Vitória, defensora da paz mundial cujo lema de vida é "all you need is love", mas sim a senhorita Delegada da República Popular da China que acreditava na tortura como método de manter a unidade social de modo a proporcionar estabilidade política e social assim como o desenvolvimento econômico, que se dizia a favor dos Direitos Humanos, assinava documentos a respeito mas não aceitava qualquer tipo de interferência ou fiscalização externa em seu país.
Meu comitê possuia delegações orientais muito fortes, e logo formamos uma aliança nos atendo a esse argumento acima, além daqueles países árabes que também podiam fundamentar suas posições através do Alcorão. Apesar de ter vários parceiros, muitas vezes eu me desesperava para buscar argumentos e propostas que poderiam diminuir as práticas de tortura de forma prática e eficaz, e ao mesmo tempo impedindo a ação de qualquer órgão internacional para a fiscalização. É um exercício e tanto de retórica, de pense rápido e também um tanto de cara de pau, uma vez que muitas vezes o país se contradiz em suas posições, outros países percebem isso e te cobram e, bem, você tem que fingir que não ouviu ou se valer de uma justificativa bem babaca. No final, a proposta de resolução que elaboramos ficou muito boa de acordo com tudo o que havíamos discutido, mas foi extremamente inútil. Tinha caráter recomendatório, respeitava as Constituições de cada país (ou seja, aqueles países que legalizavam a tortura não tinham com o que se preocupar), e se fosse numa situação verdadeira, poderíamos dizer que acabou em pizza.
Foi uma experiência muito bacana, que eu recomendo a todos vocês que gostam desse tipo de atividade, se tiveram a oportunidade, não se deixem levar pela preguiça de ter que fazer estudos extras (a preparação é primordial), fazer os trabalhos, ou pensem que vai ser perda do final de semana, de tempo livre ou coisa assim. Sábado eu fiquei na escola das 9h às 20h30, com pausa apenas pra almoço e café da tarde, com três sessões de 3 horas de duração. Parece muito, mas na hora, no calor da discussão, o tempo voa. Sem falar que você aprende um monte, passa a enxergar culturas diferentes com muito mais tolerância e dar muito mais valor e crédito a elas - por mais que alguns aspectos sejam bizarros de acordo com o que está habituado - e além disso você aprende a argumentar, debater, manipular e a falar em público com linguagem rebuscada e diplomática. E se diverte muito, por que não? O evento acabou a poucas horas e já estou morrendo de saudades de tudo, por mim tinha haveria um SimuNa a cada duas semanas!
E ainda é uma ótima desculpa pra passar quatro dias usando trajes formais, coque, pérolas, pretinhos básicos, meia calça, sapato de salto, batom vermelho, terninhos e camisas!
(Até que eu faça um apanhado geral das conclusões do formulário, vocês ainda podem ser fofos e deixarem suas opiniões! Aqui!)
No começo estava morrendo de medo, por razões óbvias. Repetindo: eu era a China, num comitê de Direitos Humanos, discutindo sobre a tortura. Existia um alvo desenhado na minha testa. Pra mim o mais legal nessas simulações é você ser obrigada a defender uma coisa que você não aceita ou acredita. É necessário que você abrace completamente a visão do país, eu entrava naquela sala e não era mais a Anna Vitória, defensora da paz mundial cujo lema de vida é "all you need is love", mas sim a senhorita Delegada da República Popular da China que acreditava na tortura como método de manter a unidade social de modo a proporcionar estabilidade política e social assim como o desenvolvimento econômico, que se dizia a favor dos Direitos Humanos, assinava documentos a respeito mas não aceitava qualquer tipo de interferência ou fiscalização externa em seu país.
Meu comitê possuia delegações orientais muito fortes, e logo formamos uma aliança nos atendo a esse argumento acima, além daqueles países árabes que também podiam fundamentar suas posições através do Alcorão. Apesar de ter vários parceiros, muitas vezes eu me desesperava para buscar argumentos e propostas que poderiam diminuir as práticas de tortura de forma prática e eficaz, e ao mesmo tempo impedindo a ação de qualquer órgão internacional para a fiscalização. É um exercício e tanto de retórica, de pense rápido e também um tanto de cara de pau, uma vez que muitas vezes o país se contradiz em suas posições, outros países percebem isso e te cobram e, bem, você tem que fingir que não ouviu ou se valer de uma justificativa bem babaca. No final, a proposta de resolução que elaboramos ficou muito boa de acordo com tudo o que havíamos discutido, mas foi extremamente inútil. Tinha caráter recomendatório, respeitava as Constituições de cada país (ou seja, aqueles países que legalizavam a tortura não tinham com o que se preocupar), e se fosse numa situação verdadeira, poderíamos dizer que acabou em pizza.
Foi uma experiência muito bacana, que eu recomendo a todos vocês que gostam desse tipo de atividade, se tiveram a oportunidade, não se deixem levar pela preguiça de ter que fazer estudos extras (a preparação é primordial), fazer os trabalhos, ou pensem que vai ser perda do final de semana, de tempo livre ou coisa assim. Sábado eu fiquei na escola das 9h às 20h30, com pausa apenas pra almoço e café da tarde, com três sessões de 3 horas de duração. Parece muito, mas na hora, no calor da discussão, o tempo voa. Sem falar que você aprende um monte, passa a enxergar culturas diferentes com muito mais tolerância e dar muito mais valor e crédito a elas - por mais que alguns aspectos sejam bizarros de acordo com o que está habituado - e além disso você aprende a argumentar, debater, manipular e a falar em público com linguagem rebuscada e diplomática. E se diverte muito, por que não? O evento acabou a poucas horas e já estou morrendo de saudades de tudo, por mim tinha haveria um SimuNa a cada duas semanas!
E ainda é uma ótima desculpa pra passar quatro dias usando trajes formais, coque, pérolas, pretinhos básicos, meia calça, sapato de salto, batom vermelho, terninhos e camisas!
(Até que eu faça um apanhado geral das conclusões do formulário, vocês ainda podem ser fofos e deixarem suas opiniões! Aqui!)
Ah que legal, Anna!
ResponderExcluirSuper bacana essa iniciativa do seu colégio! Aliás, seu colégio parece ter ótimas propostas culturais, gosto disso! :D
Eu super protelo pra entrar nesses trabalhos, sempre me estresso mais do que devia e acabo ficando doente!
Enfim, que bom que não se arrependeu!
Beijos
Isso sim é aprender alguma coisa de verdade! Nada como VIVER a teoria, né? Quem dera todas as escolas oferecessem trabalhos assim, e quem dera todos os alunos levassem a sério como você. Uma pessoa que se esforça assim só tem a ganhar! :)
ResponderExcluirE você reclama? Na minha escola, eu queria ter um evento bacana e instrutivo desse tipo. Mas tambem acabo participando de coisas em excesso, o que me deixa sem tempo pra mim. O gremio é um grande exemplo. Mas o ano está acabando, graças a Deus!
ResponderExcluirBeijos!
Ei Anna!
ResponderExcluirParece ser uma coisa muito legal! Amei a iniciativa do seu colégio, e assim como a pessoa do comentário àcima, isso sim é aprender alguma coisa de verdade!
Beijos
Sim Anna, existe.
ResponderExcluirE se você conhecer algum editor, fala de mim pra ele que eu to com um livro quase pronto!
Wow, o evento deve ter sido muito interessante! Lembro que no meu ensino fundamental fizemos algo semelhante. Não tão aprofundado, já que eramos projeto de adolescentes, mas ainda assim foi divertido. Eu fiquei com um país complicadinho, o Marrocos. Apesar de serem riquíssimos em cultura, pecam um pouco nas leis de direitos humanos. ;D
ResponderExcluirAté mais! =*
Cara, que máximo! Que inveja! Na minha escola, isso nunca dava certo. :p
ResponderExcluirEu adorei! e quem dera se na minha epoca de escola meu colegio fosse tao criativo e educativo ao mesmo tempo.
ResponderExcluirEu admiro e apoio todo tipo de aprendizado de formas diferentes; vc aprende e se diverte ;D
Saudades desse tempo.. aproveite muito!!!!
Beijos
UAU, que desafio ser a representante da China num comitê de Direitos Humanos! Deve ter sido o máximo! Na minha antiga escola a gente nunca teve esse tipo de atividade, muito legal!
ResponderExcluirCamila F.
Eu nem pedi pra vc contar como foi, pq eu sabia que vc ia relatar aqui de qualquer forma... :D
ResponderExcluirAchei muito interessante a iniciativa da sua escola (como a maioria das pessoas acima, eu tbm não tive esse tipo de coisa no colégio) e definitivamente você não poderia ter perdido tal oportunidade. Que bom que correu tudo certo e ninguém quis atirar nada no alvo da sua testa!
Aposto como foi uma experiência ímpar porque, como eu te disse, te ajuda na hora de tomar a decisão de que curso prestar.
Bjos ;)
po, na minha faculdade de direito tinha isso, mas como detesto direito internacional nunca quis entrar, hehe. BJS
ResponderExcluiranna!
ResponderExcluireu participei de uma simulação também, a Sinus, que é promovida pela unb. também participei do CDH. foi maravilhoso! eu também tava desanimada, achando que tinha feito besteira em ter me inscrito, mas foi tudo isso que voce descreveu. to super ansiosa pra participar de outra. como aqui na minha cidade nao tem nada disso, o jeito é ir pra Sinus de novo... já sairam os comites pro ano que vem e eu já to tentando escolher haha
espero que a simulação tenha ajudado voce, como me ajudou, a pensar melhor na profissão, já que voce tá em duvida de qual carreira seguir.
beijo!
Nossa Anna, você não faz ideia, de como eu queria ter participado. Fiquei super animada, quando a Sandra disse que nós iríamos conhecer a FAAP, e que iria ter o Simuna. (Sim, eu fui na primeira semana de aula no Nacional). Mas imprevistos acontecem, e agora eu estou no COC. A Nat Foppa me contou que foi ótimo, que todos se empenharam, e que ela estava na mesma situação que você, ela representaria o Irã...
ResponderExcluirQuem sabe o ano que vem, não deixem eu gansar no Simuna, eu adoraria, participar.
BTW, vc ta pensando em fazer Relações Internacionais? Eu acho um curso ótimo, uma profissão digna, mais quero mesmo a área de saúde...
Um beijo,
Bruna