Em se tratando de mim e da minha mãe, pegar o carro e ir visitar meus avós em Tupaciguara, a mais ou menos 80km daqui, não é tão simples como parece. Aliás, em se tratando de mim e da minha mãe, nada é tão simples como parece.
Para início de conversa, mamãe não vê diferença entre o conceito de mala pra um fim de semana no interior e mala pra uma semana de férias num lugar interessante. Em Tupaciguara, quando saímos de casa, é pra ir visitar minha bisavó e olhe lá. Ainda assim mamãe arruma uma mala de 10 quilos com roupas e sapatos suficientes para uma longa temporada fora de casa, além de uma pesada frasqueira com secador, escovas, creme pro corpo, creme pro rosto, creme para os pés... É claro que chegando lá ela não usa nem um terço do que levou e ainda toma emprestado as poucas coisas que levo em minha módica mochila de leggings, camisetas e moletons.
Jogo mamãe na fogueira mas tenho lá minha parcela de culpa. Sou a esquisita que não consegue se desligar da civilização e que para onde vai leva consigo notebook, uma sacola cheia de carregadores e cabos USB, jornais e revistas que vou juntando e não tenho tempo de ler - o que me faz digna de participar do Acumuladores - e, no caso desse feriado, uma temporada de Skins, um box de filmes do Scorsese e um romance russo de 814 páginas.
Já era difícil quando estávamos apenas em duas, mas a família aumentou há dois anos com a chegada de Chico, o poodle. Lorde Francisco tem também suas posses: duas tigelas, um pote de ração, coleira, brinquedos, roupa de frio; tudo isso dentro de uma ecobag grande - sem contar, claro, com a cama.
De vez em quando temos também uma sacola térmica que leva as coisas mais perecíveis da geladeira de casa que já teriam expirado na nossa volta. Considerando que fomos ao sacolão semana passada, a sacola estava cheia. Para completar, mamãe decidiu que seria uma boa levarmos também uma TV. Uma televisão. De tubo. 29 polegadas.
O abençoado eletrodoméstico da família brasileira estava encostado em casa desde que trocamos a TV da sala. Numa chuvosa quinta-feira de Corpus Christi, junto de uma mala de 10 quilos, minha mochila de entretenimento, cachorro, cama de cachorro e mala de cachorro, mamãe pensou que seria uma boa levar a referida. Em sua cabeça, Chico iria no chão do banco da frente e eu atrás com a TV. Eu, 1,75 de altura, no banco de trás com uma TV de 29 polegadas. De tubo. Não sei o que era pior, o plano original ou o B ao qual tivemos que apelar, mas calma, temos que tirar a televisão de casa.
Numa jogada de mestre, minha mãe inventou de colocar a TV sobre um tapete, que foi arrastado até o elevador. Piece of cake. O doce só azedou na hora de andar até o carro, na raça. Duas pálidas mocinhas loiras dos olhos verdes com uma televisão nos braços. Não sabia o quanto essas malditas pesavam até ter a nítida sensação de que minha coluna partiria no meio. Eu, com o frescor da juventude de quem sempre trapaceia na hora de fazer exercícios de braço no pilates, e mamãe, canhota com LER e tendinite. Resumo da ópera: na caminhada de 20s entre o elevador e o carro, achei que fosse morrer umas trinta e duas vezes.
Nosso carro, compacto pra quem vê gigante pra quem anda apenas na perspectiva distorcida da minha mãe, acomodou com custo a TV no banco de trás. Fiquei no passageiro e Chico foi para o chão da parte traseira. Quer dizer, teoricamente ele dormia pacificamente no chão, mas na prática ele, excitadíssimo com aquele trambolho cinza de acompanhante, não parou de pular um segundo. Aquele quadro tinha chance de dar errado em tantos níveis diferentes e aterrorizantes que parei de pensar e entreguei pra Deus, em cada curva antevendo a queda simultânea de televisão, cachorro e todos os pontos da carteira de motorista da minha mãe. Passei toda a viagem torta, com o braço para trás, firmando a televisão e ralhando com o Chico, cujo objetivo principal era embolar o tapete que estava em cima da TV para protegê-la, para que pudesse, assim, deitar ali em cima. Em cima da televisão num carro em movimento.
Se escrevo este texto é porque, graças a Deus, chegamos inteiras: eu, mamãe, Chico, a mala de 10 quilos e a TV - esta, aliás, já faz a felicidade de vovô que a essa hora deve estar todo pimpão assistindo ao futebol deitado na cama. Vovó nos recepcionou feliz da vida, e como recompensa pelo nosso périplo nos preparou uma bela fei-jo-a-da.
Minha vida é ou não é um episódio de Friends?
Haha, eu sempre reparei que sua mãe era meio doidinha Anna, mas essa foi insuperável! Gente, eu não concordo com uma televisão de 29 dentro do carro nem ferrando. loucura, viu?
ResponderExcluirAbraços.
Eu lendo e rindo da peripécia de carregar a TV :)
ResponderExcluirHAHAHAHAH, não aguento, Anna. Esse penúltimo parágrafo foi um sarro. Já me mato de rir imaginando a cena, você ainda me coloca Ross e seu sofá para arrematar. HAHAHAHAHA
ResponderExcluirE o que seria de nós sem nossos dias de Friends, gente?
Beijos!
PIVOT! PIVOT! PIVOT!
ResponderExcluirHAHAHAHAHAHA
Minha mãe também faz dessas. Olha, sei o que você sofreu :P
HAHAHAHA muito bom!! Vai dizer que não vale a pena se meter nessas enrascadas nem que seja para render posts? :P
ResponderExcluirBeijo
ahuahuahua gente, eu pude formar a cena inteira na minha cabeça. Foi hilária!! Essas invenções das mães/pais sempre nos metem em cada enrascada.
ResponderExcluirA finalização com o Ross foi ótima!
Beijo!
Me identifiquei horrores com esse post, você não faz ideia. Entendo completamente o que você passou porque sempre que viajo para o interior, vou esmagada na parte de trás do carro junto com meu irmão, meu gato (que é um terror dentro do carro) e às vezes meu papagaio. Totalmente família buscapé.
ResponderExcluirSem falar que minha mãe é igual a sua, se puder, leva a casa nas costas. E eu sou igual a você, levo notebook, mil cabos e livros gigantes como o Ilusões Perdidas do Balzac que também tem 800 e poucas páginas. Episódio de Friends é pouco haha
É sim! Rachei aqui!!! Toda mulher é assim e leva mais do que o necessário para a viagem! rsrs
ResponderExcluirBjus e visita meu blog?
Ai gente, chorei de rir aqui! Só você mesmo! Morro de vontade de conhecer tua mãe, ela parece ser hilária! Mas hein, vocês não prenderam a tv com cinto de segurança? Quando levamos a nossa 29polegadas de tubo pro interior fizemos isso e eu fui completamente espremida do lado dela, claro, mas essa parte a gente esquece. HAHAHA Ai ai... Amei aqui. Só tu! ASAUSHUHASUHAS
ResponderExcluirAbraços! <3