segunda-feira, 17 de agosto de 2009

E disse Mr. Darcy:

É a terceira vez que releio "Orgulho e Preconceito", e a terceira vez que lendo eu constato que é um dos livros mais envolventes que eu já li, de uma intensidade assim tão plena que só poderia ser atingida com a narrativa leve e um tanto irônica que tem, genial o suficiente para só poder ser coisa da Jane Austen. (Quem não conhece a história, faça-me o favor.) Lembro da parte em que Mr. Darcy se declara, o livro mexe tanto comigo que eu não deixo de sentir em mim as emoções da Lizzy, e depois de ler a clássica "Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos, e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente", eu sempre abaixo o livro e fico suspirando, como se aquilo fosse pra mim. Lembro da primeira vez que li e fiquei tão, tão mexida em certos trechos e diálogos, que cheguei até a suar frio. Sério.

Mas o incrível do livro não está no enredo e nem na forma como ele é escrito. Só nessa terceira leitura que eu consegui ver o pulo do gato da Jane Austen (por isso digo que livros e filmes devem ser relidos/reassistidos o máximo de vezes possível), que a fantástica descrição psicológica dos personagens. Todos os personagens dela tem gênios muito fortes, personalidades muito marcadas e marcantes, e elas representam a nossa sociedade. Vai me dizer que você nunca conheceu uma Mrs. Bennet por aí, ou então até mesmo deu a sorte de topar com um Mr. Bingley e o azar de se ver diante de uma Lady Catherine de Bourgh? Acho isso de fato incrível, o perfil psicológico de cada um que ela esmiúça como ninguém, e tem o poder de nos fazer gostar e desgostar daqueles que ela cria. Pelo menos eu vou ficando gradualmente apaixonada por Mr. Darcy assim que as coisas vão se revelando, não sei se é porque eu me vejo muito na Lizzy, principalmente na maneira dela de ver o mundo.

Seja pela ironia refinada implícita na narração, ou pelos diálogos cortantes e dinâmicos - apesar de serem um tanto rebuscados - , pela psicologia, pela forma como é escrita (sempre que termino os livros dela fico inclinada a usar mesóclise regurlamente) ou pela história de amor linda que é, todo mundo que gosta de ler e/ou escrever, deveria ler "Orgulho e Preconceito" algumas vezes na vida, e aqueles que não gostam, deveriam descobrir nele o prazer da leitura.

"Eu já lhe teria escrito, minha querida tia, para lhe agradecer,
como devia, a sua longa e carinhosa carta, tão rica em
pormenores, se, para lhe dizer a verdade, não me sentisse
aborrecida de mais para o fazer. A tia supôs mais do que
aquilo que realmente existia. Mas, agora, suponha tudo o que
quiser; dê largas à fantasia e entregue-se à sua imaginação,
para os voos mais arrojados, e, a menos que me imagine já
casada, não errará por muito. Escreva-me tão depressa
quanto puder e elogie-o a ele ainda mais do que na sua
última carta. Não me canso de lhe agradecer por não me
terem levado até aos Lagos. Não sei como pude ser tola a
ponto de desejar tal passeio! A sua ideia dos garranos é
encantadora. Percorreremos o parque todos os dias. Sou a
criatura mais feliz do mundo. Talvez outras pessoas já o
tenham dito antes, mas nunca com tanta justiça. Sou mais
feliz até do que Jane; ela apenas sorri, eu rio. O Sr. Darcy
envia-lhe todo o seu amor, aquele que ainda lhe resta.
Contamos com todos em Pemberley, para passar o Natal. A
sua, etc."


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