quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Minha autobiografia musical.

* Depois que li uma coluna do Digestivo Cultural onde Gian Danton fazia uma reconstrução da evolução de seu gosto musical até então, fiquei morrendo de vontade de fazer a minha própria. Ei-la:

Desde muito pequena eu gosto de música. Desde muito pequena eu gosto de ouvir música. Porque normalmente criança não ouve música, você não costuma ver uma criança ligar o som, sentar e ficar ouvindo. Eu adorava fazer isso. Na minha infância óbvio que estiveram presentes todas as cantoras infantis famosas, Xuxa, Angélica e Eliana, mas eu ouvia muito mais daquilo que meus pais ouviam.

Minha mãe sempre teve o hábito de, quando chegava em casa na hora do almoço, ligar o som e deixar tocando até a hora de sair de novo pra trabalhar e me levar no colégio. Ela nunca foi muito criativa nas suas escolhas, setenta por cento de tempo ela colocava Marisa Monte. Acho que essa foi a primeira cantora que eu me lembro de gostar. Como mamãe é muito fã dela, tínhamos vários cds em casa, lembro de um que era cor-de-rosa ("Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão"), de um duplo que os discos tinham ilustrações de umas mulheres sem roupa que eu achava bizarras ("Barulhinho Bom") e um que eu amava a capa ("Mais"). Quando eu já era mais grandinha, veio o que até hoje é meu favorito, "Memórias, Crônicas, Declarações de Amor", mas os três primeiros foram os que mais me marcam na infância. Minha música favorita era "Rosa", cuja letra é bem rebuscada e tem um toque de poesia fortíssimo. Eu achava as palavras nela tão bonitas, e olhe que muitas eu nem sabia o significado, mas eu achava a sonoridade, a escrita, tudo muito bonito. Sabia cantá-la inteira, coisa que hoje não consigo fazer mais.

"Perdão se ouso confessar-te, eu hei de sempre amar-te
Oh flor, meu peito não resiste
Oh meu Deus, o quanto é triste
A incerteza de um amor que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia ao pé do altar
Jurar aos pés do Onipotente em preces comoventes
De dor, e receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer de todo fenecer"

Outra pessoa que influenciou muito meu gosto musical foi minha avó. Como meus pais sempre trabalharam muito, eu ficava muito com ela e a gente se divertia a beça. Sempre no fim do dia, quando eu chegava da escola, minha avó punha um colchão velho na varanda e nós íamos ver as nuvens e ouvir música. Eu adorava uma coletânea que ela tinha da Gal Costa. Nós o ouvíamos sempre, e sem exagero, eu sabia cantar todas as músicas de cor. Como eu achava a voz dela divertida! Gostava de tanto que minha avó acabou por me dar o cd, que eu ouvia à exaustão. Minhas preferidas eram "Açaí", "Folhetim", "Só Louco", "Balancê", "Folhetim" e uma que até hoje me faz chorar claves de sol, "Baby".

"Você precisa saber da piscina
Da margarina
Da Carolina
Da gasolina
Você precisa saber de mim"

Não vivi 15 anos sem dar meus escorregões musicais. Já gostei de coisa muito errada nessa vida. Aos seis anos foi a febre Sandy e Júnior, já fui no show deles e tudo mais. Tenho guardados ainda os três cds dele que ouvia até arranhar, e acreditem ou não, mas até hoje sei quase todas as músicas de cor. Tive meus momentos de adorar Kelly Key. É. Mas ninguém foi tão cultuada como Britney Spears. Tenho quatro cds dela, e ainda escuto. Não gostei dos dois últimos, Circus e Blackout, mas sempre que estou me aprontando coloco o In The Zone pra rolar. Eu e minha melhor amiga da época, Amanda, punhamos Britnéia num pedastal, todo sábado nós assistíamos Crossroads e o dvd de um show dela em Las Vegas. Ficávamos as duas, um bandiretardada, na frente da televisão imitando as coreografias. E nós também inventamos uma coreografia pra Toxic. Sim. Um cd dela que eu amava era um Greatest Hits, chamado My Prerogative, que tinha todas as músicas famosas da carreira inteira. Ah, como eu amava aquele cd! Foi roubado junto com o som do carro dos meus pais.

"You drive me crazy
I just can't sleep
I'm so excited, I'm in too deep
OH,OH,OH
Crazy, but it feels alright
Baby thinkin of you keeps me up all night"

Aos 9 anos comecei a fazer sapateado, e nas aulas nós ouvíamos muita música nacional atual. Até então de música brasileira, além de Marisa Monte e Adriana Calcanhoto, eu só conhecia música antiga. O contato com o novo foi contagiante e eu me vi muito rapidamente apaixonada por Cássia Eller, Titãs, Skank e principalmente Tribalistas. Eu ouvi muito esse quando foi lançado, eu escuto ele até hoje sem cessar. Um outro que eu adorava era um do meu pai, o Acústico MTV do Ira!, que cd gostoso. E o acústico da Cássia Eller? É um dos meus cds favoritos de todos os tempos.

"Me esqueça sim, pra não sofrer,
pra não chorar, pra não sentir.
Me esqueça sim, que eu quero ver
você tentar sem conseguir.
A cama agora está tão fria, ainda sinto o seu calor.
Me esqueça sim, mas nunca esqueça o meu amor."

O gosto do meu pai sempre me influenciou bastante também. Quando começou a febre de baixar música pela internet, ele pôde me apresentar a todas as bandas até então estranhas pra mim, que ele sempre me contava. Foi com ele que aprendi a gostar de Oasis, Pearl Jam, Simon and Garfunkel, The Smiths, Supergrass, Aerosmith, e por um tempo, lá pelos meus 11 anos, era só isso que eu ouvia. Foi com essa idade que ganhei meu primeiro mp3 player, que foi uma das coisas mais legais que já tinha me acontecido nessa vida. Aerosmith me marcou bastante, lembro que achava o Steven Tyler um absurdo de pessoa, e amava loucamente o clipe de "Crazy". Meu sonho de vida era crescer e ser linda que nem a Liv Tyler e sair por aí num conversível, como se não houvesse amanhã.

"I go crazy, crazy, baby, I go crazy
You turn it on
Then you're gone
Yeah you drive me
Crazy, crazy, crazy for you baby
What can I do, honey
I feel like the color blue."


Quando eu conheci a poesia, conheci junto Vinicius de Moraes. Minha avó desenterrou um livirinho antigo até que ela tinha, tipo uma coletânea com os melhores poemas, os melhores textos, o bom e velho "Best of". Meus avós tinham um cd de Toquinho e Vinícius pelo qual eu era louca, afinal, podia ver grande parte daquelas palavras que tanto me encantavam sendo cantadas e isso era lindo de se viver. Outra herança dos avós, além de Gal e Vinícius, foi Chico, meu velho, lindo e amado Chico Buarque. "Ópera do Malandro" e tantos e tantos cds dele que me encantavam, e que há uns dois anos atrás fui redescobrir, e Chico acabou entrando pro hall dos meus cantores favoritos de todos os tempos dessa vida. Lindeza, amor puro no coração.

"Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar"

Outra época meio errada foi a dos meus 12 anos. Até então o emo era legal, igual o indie-calça-justa-colorida já foi bacana um dia e hoje todo mundo despreza. Eu assistia Disk Mtv todos os dias, e eu ouvia coisas daí pra baixo. Eu amava Fresno. Amava mesmo. Até hoje pago um pau violento pro Lucas, o vocalista, porque ele escreve textos realmente lindos. Fresno era o que eu mais gostava, Beeshop também, que é o projeto paralelo do Lucas. Beeshop eu assumo: gosto até hoje. Nem tudo estava perdido, foi a época que eu descobri Arctic Monkeys, Foo Fighters, Red Hot Chilli Peppers e Strokes!

"Victoria... she goes to wherever there are party lights
Sometimes she doesn't see sometimes she's hurting me
With her damn punk attitude
Victoria... she loves to walk alone across gun-fights
But there has never been a prettier indie queen
This throne was all set for you"

Um momento importante que vale registro é o da primeira vez que ouvi Beatles. Lembro que tinha meus seis anos e estava comendo fondue na casa da minha tia. O som ambiente era Beatles. "Love Me Do", se me lembro bem, foi a primeira que me chamou atenção. Meus pais também gostaram muito e pediram o nome do cd. Era o "One". Eles devem ter comprado no dia seguinte, e eu ouvia muito o cd. Minha favorita era "Lady Madonna" e "Yellow Submarine" que, uns anos depois, até apresentei no sapateado. Depois, quando tinha 11 anos, queria me iniciar nos Beatles e pedi que Pedro, meu primo, me gravasse um cd deles. Ele gravou o Revolver e eu passei dias e mais dias com "For No One" e "Good Day Sunshine" na cabeça. O pico do amor foi quando meu tio-avô se ofereceu pra gravar a discografia completa pra mim. Desde então, nunca mais parei de escutar.

"Your day breaks, your mind aches,
There will be times when all the things she said will fill your head,
You won't forget her.
And in her eyes you see nothing,
No sign of love behind the tears cried for no one,
A love that should have lasted years."

Aos 13 anos eu assistia The Oc como se não houvesse amanhã. Foi na época de ouro em que a Warner reprisava todos os episódios todos os dias as 17h depois da reprise de Gilmore Girls, as 16h. Eu só fazia isso da vida. Minhas tardes se resumiam às trapalhadas de Lorelai Gilmore, seguidas das aventuras do pessoal de Orange County. Xingava a Marissa de chata, passava muitíssimo mal com Seth, e no fundo no fundo queria ser mais Summer Robers. E ouvia as músicas dos episódios. Acabava um episódio eu corria pro MusicFromTheOc e baixava o set do episódio. Assim conheci Death Cab For Cutie, Rooney, Ryan Adams, Pavement, Ok Go, Jem, The Killers, Nada Surf, Imogean Heap, Beck, The Subways, Shout Out Loud, Stars e a lista é imensa.

"I go to bed
When I wake up
After cleaning all
All the spit and sweat
Now I'm, now I'm
sh sh shakin', sh shakin' now
I'm sh sh shakin' sh shakin' now"

E foi nesse longo caminho que fui costurando meu gosto musical. Influência dali, boa indicação acolá, a trilha do filme que marcou, o cd antigo dos pais, a melhor banda de todos os tempos da última semana, tudo isso tem. Ainda hoje eu ligo o som e fico sentada só ouvindo música. É difícil falar sobre bandas preferidas, mas posso dizer que nesse momento minhas grandes favoritas são Beatles, Strokes, Los Hermanos, Radiohead, The Killers e She & Him. Menções honrosas ao Chico, ao Rufus Wainwright, Legião, Weezer, Switchfoot, Cat Power e a lista é grande demais. Gostei de repensar minha história musical porque ia ouvindo essas músicas e relembrando das letras e aqueles dias voltavam e eu podia sentir de novo a antiga sensação de ouvir cada música. De uma coisa eu estou certa, ou melhor, duas: cada um tem seu gosto, o que é genial pra mim não passa de algo ordinário pra outra pessoa, e a outra é que as músicas acompanham momentos e tem o poder de nos fazer voltar até eles.

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