quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A (des)graça de uma franja

De tempos em tempos eu fico com esse comichão na pleura que me leva a pensar que eu preciso fazer alguma coisa com o meu cabelo, como se de repente eu enjoasse radicalmente da minha cara no espelho e precisasse fazer algo para mudar. Mudar o cabelo é a melhor e mais prática mudança de vida que qualquer pessoa pode inventar de fazer, porque, pra início de conversa, cabelo cresce, de modo que não há ideia errada feita por impulso que dure pra sempre e isso é um ótimo consolo. Depois, te dá algo pra se preocupar se você não está a fim de confrontar os seus problemas: por que se estressar com aquele roteiro que você tem que entregar na quarta-feira e nem começou quando se tem aquele chanel da Catarina que deu muito, muito errado pra se preocupar, certo? Por fim, e essa é a motivação mais patética de todas, mudar o cabelo te enche de expectativas. Você vai pra faculdade ansiosa para que as pessoas vejam seu cabelo novo, vai para a aula de francês se perguntando se alguém vai reparar, tem um pretexto para trocar a foto de perfil no Facebook ou postar uma foto da sua cara no Instagram sem parecer attention whore demais e, dependendo do corte, você tem motivos para gastar um dinheiro desnecessário em alguma tiara bonitinha e superfaturada da Accessorize. 

A Juliana Cunha tem um textinho onde ela escreve que resolveu cortar a franja porque as coisas estavam tão escrotas pro lado dela que ela precisou se esconder usando, and I quote, tufos de pelo no meio da testa que só servem para aumentar a oleosidade da região e levar nosso nariz para o primeiro plano. Nada contra meu nariz e uma oleosidade na testa até que viria bem já que estamos em agosto, e se eu começar a pensar naquele roteiro-pra-quarta-feira-que-eu-nem-comecei-a-escrever posso dizer que com certeza estou me escondendo, de modo que sim, definitivamente, o comichão na pleura da vez atende por: vontade de cortar a franja. 

Tudo começou num busãozinho desses que a gente pega no aeroporto que nos leva para onde o avião está estacionado. A viagem não costuma levar mais que três minutos, mas dessa vez eu circulei a pista inteira do aeroporto de Congonhas porque não existia um avião estacionado esperando por aquela tripulação sonolenta, já que nosso voo havia sido cancelado. Eu estava em pé e, na minha frente, perto da porta, parada no degrau embaixo, tinha uma moça segurando um bebê. O ônibus estava bem cheio, de modo que não me restava outra opção senão encarar o topo da cabeça dela e a careca do neném. Foi então que eu vi: a franja. A franja da moça era linda e eu tinha esquecido como era legal o corte, que começa ali uns três dedos antes da testa e vai desaguar na altura das sobrancelhas, trazendo oleosidade pra região e colocando o nariz em primeiro plano. Então eu comecei a pensar: e se eu cortasse minha franja?

Quando eu decidi ficar ruiva pensei que teria um sossego dessas perturbações internas que me deixam com vontade de caçar sarna para me coçar com motivações estéticas. Pensei que uma raiz que cresce em progressão geométrica, somada com queda acentuada por causa da amônia, ressecamento dos fios e desbotamento mais rápido que a velocidade da luz fossem fatores que me manteriam ocupada por um bom tempo. Só que foi o contrário: descobri que, quanto mais radicalmente você muda, mais drásticas tem que ser as mudanças. Repicar não é mais suficiente, arriscar desfiar as pontas com navalha é coisa de principiante. Depois de ficar ruiva do dia pra noite a única coisa que vai te satisfazer é uma besteira de proporções estratosféricas que só uma franja recém-cortada te oferece.

Eu nunca cortei a franja. Já ensaiei, muitas vezes. Sempre peço pra cabeleireira tirar mais um dedinho quando vejo o cabelo seco, falo, toda tímida, que dessa vez quero experimentar deixá-la mais ou menos na altura dos olhos. Mas quando ela me pergunta então você quer cortar franjinha?, eu logo recuo, quase ofendida, e digo que naaaaaaaaaao, tá doida, e a oleosidade? e meu nariz em primeiro plano? naaaaaaao, tira só mais um pouquinho, assim, ali na altura do olho. Racionalmente, eu sempre quero deixar minha franja crescer até um comprimento suficiente para eu cortar o cabelo inteiro na altura dela e ter um daqueles cortes de gente chique, só que esse bichinho que tem a cara (e a franja) da Zooey Deschanel me fazem pedir menos um dedinho de cabelo no rosto para a cabeleireira e estão a desgraça está feita.

Concluí, então, que a melhor maneira de encerrar esse drama que já está quase debutando é cortar a franja de uma vez. Franjinha, sim senhora, pode meter a tesoura, colour my life with the chaos of trouble! Quero cortar o laço vermelho e receber uma medalha de honra ao mérito, me dando as boas vindas a essa nova esfera de existência que envolve oleosidade na testa, nariz protuberante, impossibilidade de fazer vários penteados e ansiedade permanente com o cabelo que cresce em progressão geométrica. Quando penso naquele roteiro para quarta-feira e na minha carteira de motorista, me parece uma barganha bem honesta. Parece que, afinal de contas, eu tenho umas coisas das quais quero me esconder.

Nos próximos capítulos...

EXPECTATION


REALITY



Rachel Zoe, amiga, tamo junta nessa!

8 comentários:

  1. O problema da franjinha (comigo) não foi a evidência do nariz, mas deixar minha cara ainda mais bolacha. Eu fui obrigada a cortar por causa de uma progressiva que deu errado e o cabelo ficou mais escorrido do que a vida. O franjão não parava em lugar nenhum. Eu, meus óculos pretos gigantes (usados 99% do tempo) e minha cara de bolacha. Foi um trauma, eu até gostava de mim sem óculos, a bicha cresceu, mas me deixou num trauma (sim, um trauma gigante e por isso me dou a liberdade de usar essa palavra três vezes numa frase) que estou deixando ela crescer eternamente desde então (fez um ano já, eu acho) e agora que ela passou do meu queixo. Diz o meu cabeleireiro que cresceu até foi rápido, mas poderia ter crescido muito mais se ele não aparassse as ~pontinhas~ da franja quando eu fui cortar o resto do cabelo. Corto com ele há mais de 10 anos e é tradição sair dizendo que ele me deixou careca, mesmo que de franja.

    Eu sei que todo meu comentário foi negativo sobre ter franjinha, mas quero deixar bem claro que acho que vc vai (ficou?) fofa com a franja na altura da sobrancelha. Adoro franjinha com cabelo curto e super combina com você! Quero ver uma foto, já botou no instagram? hahaha

    beijocas!

    p.s.: estou louca e quase digitei meu blog como andmakemesmile... hahaha!

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  2. Esse ano cismei que ia deixar a franja crescer porque agora sou adulta. Arrumei que aos 28 não se pode ter franja, se você quer parecer adulta, bem adulta.
    Eu tenho franja desde que sei da minha existência, e agora quero ela de novo porque: sem franja me deixou madura demais e eu nem sou tanto assim. Lá vou eu, outra vez... haha!

    Bjs!

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  3. Meu sonho é ter franjinha. Acho lindo de morrer e nem ligo pra oleosidade da testa. SE BEM QUE, deixar meu nariz protuberante não seria algo muito feliz porque meu nariz é uma batata, mas aposto que em você vai ficar DYVA E FYNA demais, Annoca. Aguardando as novas fotos.

    E amei essa teoria de que a gente arranja corte de cabelo pra se preocupar com outra coisa que não nossas obrigações. GÊNIA. A vida é mesmo assim. HAHAHA

    Beijo :)

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  4. "Só que foi o contrário: descobri que, quanto mais radicalmente você muda, mais drásticas tem que ser as mudanças." MINHA VIDA.
    Eu sempre tive franja quando era criança, né. Aí cresci e saí dessa vida, até que cortei meu cabelo curto em 2009 e fui lá E CORTEI MINHA FRANJA SO-ZI-NHA com uma tesoura sem ponta estilo Eliana. Desastre, mas divertidíssimo.
    Sou A dona dos comichões capilares e passei a última noite fantaseando com um cabelo preto porqeu estou mais que cansada desse verde e não dá pra platinar pq vou ficar careca e tá frio pra raspar o cabelo então eu tenho que pintar de preto, ia chocar mais que aparecer com um amarelo pikachu, que seria a outra opção. Aí eu passei a noite inteira me imaginando com cabelo preto e NÃO CONSEGUI e agora estou em uma crise existencial péssima porque preciso mudar o cabelo antes das aulas voltarem - me recuso a começar um semestre com o mesmo cabelo que terminei o anterior - e parece que a única opção restante é um rainbow mas tô sem dinheiro pra ir no salão e fazer rainbow em casa me parece bastante arriscado e minha única amiga que me ajudaria vai viajar BEM NO FDS que eu queria fazer isso e, enfim, tô no caos, Anna Vitória. No caos e torcendo pra sua franja dar certo e eu ter uma bela epifania capilar!
    Te amo!

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  5. Ai, amiga, sua gênia! Eu parei de usar franja aos 11 anos e nunca mais voltei! Lá se vão 10 anos sem, e de vez em quando eu penso no assunto, mas lembro que vontade é coisa que dá e passa, porque se eu tenho 21 e me dão 15, com franjinha loira no meio da cara certamente me darão 8.
    Beijo! <3

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  6. Anna, eu admiro muito a sua qualidade incrível de trasnformar em textos deliciosas coisas pequenas do dia a dia! Quem já não passou pelo dilema da franja?! Mas ninguém nunca escreveu texto delícia assim, sobre ela. E falando nisso, eu já cortei franja. Na verdade durante toda a minha infância eu só a usei, por livre e espontânea vontade da minha mãe. Depois fiquei revolts e com uns 18, cortei de novo. Amei. Acredite, apesar de todo o trabalho que ela me dava, adorava. Quem sabe um dia eu volto a fazê-la? rs
    Boa sorte com a sua! Mudar é bom!

    Beijoca

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  7. Não sei porque eu li isso sobre franja... Mas comecei e não consegui parar. Enfim... o_o

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  8. Sim, ainda estou aqui pra dizer que você ficou uma graça de franja. Franjas forever.
    O meu blog agora é www.losliteratos.com - caso você não saiba, mas acho que sabe porque você segue ele, né?
    beijos

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