domingo, 5 de julho de 2009

Sentimento do mundo.

Ao olhar pela janela e notar que o sol fora substituído pela lua, ela percebera que desde muito mais cedo ela estava deitada em sua cama, praticamente imóvel, encarando o teto como se ali, além das estrelas fosforescentes, houvesse a coisa mais interessante do mundo. Ainda que houvesse, ela não notaria, pois mantinha os olhos fechados. Não dormia, nem tinha a intenção de dormir, apenas queria separar o mundo externo do caos que se instalava dentro dela. A idéia de que o refrigerante aberto na geladeira, lentamente perdendo o gás, seus sapatos roxos jogados na sala, prestes a serem mastigados pelo cachorro, ou até mesmo a pilha de exercícios de Química, que clamavam para serem resolvidos, lhe atrapalhassem em sua profunda reflexão naquele momento, era absurda. Ela revivia cada pequeno detalhe da história. Sabia de cor cada olhar, frase de efeito, suspiro, arrepio, todas as particularidades-de-história-de-amor da sua não-história-de-amor, que se repetiam incansavalmente em sua cabeça, como num disco riscado. As decepções, por ora, lhe assolavam e escureciam um pouco e céu cor-de-rosa de suas lembranças. Ela tentava com todas as suas forças mandá-las embora, porém, essas escorriam para fora de si na forma de grossas e salgadas lágrimas, descendo por suas bochechas, borrando-lhe a maquiagem.

Sentia então o peso daquilo que carregava dentro de si, que as vezes fazia com que um impulso de abrir a janela e gritar lhe assaltasse, aquele sentimento do mundo que fora jogado apenas em cima de si, e de suas pobres costas escoliosas. Era tudo isso que a fazia sorrir estupidamente diante do nada, e chorar como se não houvesse amanhã alguns minutos depois. Se ao menos fosse fácil colocar tudo para fora ela poderia gastar melhor seu tempo bebendo o refrigerante, guardando seus sapatos e fazendo os deveres escolares.

Ela abre seus olhos e constata que, de fato, estava diante da coisa mais interessante do mundo, que não se encontrava no teto, mas sim, como se tatuado na pálpebra interna de seus olhos. Fechando-os novamente, ela pôde vê-lo cada vez mais perto, abrindo um sorriso encantador e fazendo palhaçadas. Ela sorri estupidamente, e o refrigerante, os sapatos, a Química, Newton e o mundo que fossem para o inferno, porque enquanto ela estava ali, fora do mundo e dentro de si mesma, ela o tinha para si em tempo integral. E que lindo ele era.

* Este texto foi a minha primeira aventura no mundo das letras, já até postei-o aqui, mas faz muito tempo, e eu perdi esses arquivos. Dia desses, do nada me lembrei desse texto que, apesar de bobinho, eu gosto muito. Dei uma corrigida geral, porque estava cheio de frases feitas e repetições desnecessárias, mas enfim. Tá aí. Lembro que eu estava dormindo e sonhei com ele formadinho na minha cabeça. Levantei da cama, e escrevi porque não conseguia pegar no sono de novo com aquilo pipocando na cabeça. Oh, the simple pleasures of life... ABS AV.

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