sábado, 23 de janeiro de 2010

A loira do banheiro.

Falávamos de filmes de terror no caminho de volta pra casa, e eu e Pedro confessamos que morríamos de medo do banheiro do quarto de vovó. A verdade é que eu sempre tive um desconforto com banheiros, hoje é trauma superado, mas confesso que minha relutância em assistir O Chamado (o único filme que falta para eu ter assistido todos os filmes de suspense/terror que (eu acho que) valem a pena) é que eu não quero voltar a ter medo de banheiros. Começou quando eu era pequena e uma amiga, que amava histórias de terror, inventou de fazer o negócio da loira do banheiro em um dia que passamos na casa da avó dela. E assim, foram anos dessa que vos fala tremendo nas bases toda vez que entrava em um, dava descarga, lavava as mãos e saía correndo, como se realmente algo muito ruim fosse acontecer comigo lá. Ir no banheiro da escola então, se dava o azar de estar lá dentro sozinha, que aflição era aquela!

(Acho muito inteligente cena em banheiro em filmes de suspense/terror, porque se for bem feita, a pessoa invariavelmente vai se lembrar daquilo toda vez que for visitar a casinha - como dizem por aí. Até porque é um lugar onde na maioria das vezes estamos sozinhos. É a mesma linha de pensamento de Atividade Paranormal, todo mundo dorme, como não voltar à lembrança alguma cena depois que as luzes apagam?)

(um dos banheiros do filme O Iluminado)

Voltando ao banheiro da casa da minha avó, ele tem todos os elementos que dão medo: é daqueles que ficam dentro do armário (que óbviamente tem uma porta que range), tem banheira parecida com a do Iluminado, cuja cortininha na verdade é uma pedra parecida com um mármore escuro. Mas o pior de tudo é o box: ele é fechado com essa mesma pedra escura e a única abertura é a porta de vidro que nos fornece uma visão panorâmica da banheira. E além de tudo, ele tem um ponto cego, que claro, cobre uma parte da banheira, a parte que não é coberta pela tal pedra escura. E sai sangue da pia (só quem assistiu It - A Coisa vai entender). Toda vez que eu vou dormir, ou só tomar banho lá na casa da minha avó, ela sempre oferece o banheiro dela, diz que o chuveiro é muito melhor (isso é verdade), tem um espelho grandão, e mesmo que eu já tenha superado meu trauma, eu categoricamente recuso sua oferta todas as vezes.

"A gente tinha que levar a Anna no banheiro da Casa das Rosas", foi o que meu tio disse depois que confessei meu medo infantil. "Nooooooooooossa, aquilo sim é banheiro de filme de terror!", adicionou, empolgado, meu primo. Os três me descreveram minuciosamente o banheiro do lugar (que é uma casa de cultura lindíssima em São Paulo, de arquitetura antiga e formidável, bem no meio da Avenida Paulista), que tinha banheiro e pedras medonhas, todo cor-de-rosa antigo e com uma janela grande que dava para o jardim com várias árvores, cujos galhos batiam no vidro por conta do vento. E digo mais: reza a lenda que uma mulher já foi assassinada lá. Dentro da banheira. Pois ficou decidido que no domingo, aproveitando os eventos que estão acontecendo lá esse mês por conta do aniversário da cidade, iríamos lá inspecionar o banheiro.

O choque talvez não foi tão grande porque estava de dia e eu estava com meus tios e meu primo (o banheiro é só para visitação), mas ainda assim eu achei bem aflitivo. Aquelas coisas cor-de-rosas só me lembravam a casa dos velhinhos do filme O Bebê de Rosemary. O outro banheiro (que pode ser utilizado) também é bem ruim, é todo verde, e bem mais escuro que o rosa, e o pior de tudo é que o vaso sanitário fica dentro de um "puxadinho" fechado, por causa da enorme janela que dá para a varanda. Não me matou de medo, mas eu não voltaria lá sozinha e durante a noite. (Fotos: banheiro rosa e banheiro verde)

(Essa é a escada da casa. Fala que também não é cenário de filme? #Profeciafeelings)

Falando em estar lá sozinha e durante a noite, a melhor história definitivamente foi a do susto que meu tio e meu primo levaram por lá. No Halloween rolam uns eventos na casa, todos temáticos, nada mais adequado. Estava meu tio lá perambulando, quando passa pelo banheiro e dá de cara com uma mulher loira, do cabelo escorrido, vestido branco, descalça, passando batom. Disse ele que seu lado sensato repetia o tempo inteiro que ela era uma das atrizes da peça que iria ser apresentada, que estava caracterizada, que aquele era um evento de terror e blablabla. Mas confessou também que saiu dali logo, e o coração demorou a voltar ao seu ritmo normal.




(Preciso declarar antes que me apaixonei completamente por aquele lugar. O jardim é um espetáculo a parte, com roseiras (!), fonte, e tudo que um lugar lindo precisa ter. O projeto é do Ramos de Azevedo, e até que o governo tombasse o patrimônio, serviu de casa para as filhas do arquiteto. Hoje o espaço tem um grande acervo de livros, e materiais relacionados ao poeta Haroldo de Azevedo, e recebe muitas apresentações musicais, teatrais, etc. Mais informações.)

Um comentário:

  1. Sério, como diabos moro 18 anos em São Paulo e nunca fui em lugar desses? Eu não iria querer sair dali nunca mais. Sou apaixonada por lugares antigos e se são meio macabros, melhor ainda (apesar de eu não ser tão corajosa assim). Quero conhecer a Casa das Rosas o mais rápido que eu puder!

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