segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Socorro, virei a minha mãe!

Se por um lado a presença dos meus primos bebês aqui de visita me colocam com um pé e dois braços na infância, me fazendo assistir de livre e espontânea vontade à maratona de 50 horas do Bob Esponja, bater boca com meu primo na locadora porque queria alugar filmes infantis e ter um surto saudosista que me levou ao ponto de me oferecer para brincar de Barbie; por outro lado, meu outro pé e o resto do corpo foi arrastado para o terrível lado do mundo dos adultos, mais especificamente me fazendo virar uma cópia da minha mãe só que menos loira e com as unhas pintadas de azul.

Eles sempre vem nas férias e ficam hospedados na casa da minha avó. Para ajudá-la e também para aprovitar, praticamente me mudo para lá na semana em que eles estão aqui. Os dois - uma menina de 7 e um menino de 3 - são muito grudados comigo, ficando sob minha responsabilidade em algumas partes do dia e fazendo nascer em mim um ser insuportável que checa a cada minuto se eles já escovaram os dentes e se estão com os cabelos devidamente penteados.

No dia 31, quando Mariana saiu toda saltitante do banho, passei-lhe um rastro de onça e a fiz trazer um pente para que eu pudesse desembaraçar seus cabelos direito, alegando que seus fios estavam parecendo mais um ninho de rato. Outro dia, quando os pequenos punham o quarto a baixo, vomitei a frase: "Vamos parar com essa bagunça, os dois tratem de arrumar uma brincadeira mais sossegada, chega de folia, vamos lá montar um quebra-cabeça que eu não quero mais ouvir menino gritando e derrubando coisas aqui dentro! E tenho dito!" e tudo isso dito com uma cara de brava e um tom de voz irritantemente autoritário flagrado somente em nossas mães ao chegarem em casa e darem de cara com todos os brinquedos espalhados pelo chão da sala de visitas.

Confesso que com o pequeno Gustavinho eu sou mais mole, não sei se são as bochechas ou o pedido de casamento que ele me fez ano passado, mas assumo que demoro mais a perder a paciência com ele, deixando-o até me atacar como se eu fosse a mulher gato (ele adora Batman) e me despentear, me dar mini-socos ("toma, toma, toma gata malvada, eu sou o bátima e vou salvar got citi") e me babar inteira. Entretanto hoje, depois de ver que ele estava enrolando, enrolando, sem almoçar direito, disse-lhe com a mesma cara de louca que era melhor que ele raspasse o prato senão não iria ao McDonalds naquela tarde.

Mas acho que a pior das coisas que eu já fiz foi uma vez que Mariana me chamou pra brincar de Barbie e eu não estava nem um pouco afim, mas topei pra ela parar de me aporrinhar, só que o tempo inteiro eu deixei minha Barbie dormindo alegando que ela era catatônica. Quando questionada por ela sobre o que seria ser catatônica, mandei que ela fosse perguntar pra alguém. Isso foi horrível, horrível mesmo. Talvez pra vocês não soe tão terrível assim, mas a verdade é que eu sempre joguei na cara da minha mãe que quando ela ia brincar de Barbie comigo, punha as pobres Barbies pra dormir o dia todo, e nem se dava ao trabalhado de justificar o sono, simplesmente elas dormiam o dia todo e se eu estava achando ruim, que fosse brincar de outra coisa.

Não pensem que mamãe era malvada ou algo do tipo, mas só convivendo com criança pequena por um tempo para ver como esses comportamentos são completamente justificáveis quando se tem a paciência de um ser humano normal. Mamãe, quando eu era pequena, foi realmente implicante em se tratando de escovar os dentes, pentear os cabelos e se portar bem à mesa - coisa que toda criança parece se recusar a fazer. Hoje, porém, preciso por as mãos pro céu, porque ela melhorou muito, e até regrediu um tanto fazendo que eu me sinta muito mais adulta dentro de casa do que ela, que as vezes é um protótipo de garota de quinze anos, só que mais loira e sem as unhas pintadas de azul.


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