Ou: O inferno são os outros - mas só às vezes
Eu sou uma pessoa um pouco chata. Por pessoa um pouco chata vocês entendam que eu sou alguém que se sente incomodada por certas coisas que costumam passar despercebidas por outras. Por exemplo, eu fico incomodada com gente que fala alto perto de mim, fico incomodada com quem fala "táx" ao invés de "táxi", da mesma forma que fico incomodada ao ponto de clamar pela a morte quando me cutucam, ou que andem devagar na minha frente quando estou com pressa e até mesmo os pés de terceiros me causam desconforto. Obviamente ninguém gosta, creio eu, de gente barulhenta, gente que cutuca, gente que empaca o caminho, mas essas pessoas provocam em mim uma irritação que excede o normal. E sei que esses exemplos são particulares, mas certamente você, querido leitor, também se incomoda com certas nuances da idiotice alheia. Não somos perfeitos, não somos anjos.
Vocês certamente se lembram como eu penei ano passado tentando estudar na midiateca da escola. Era cada asno que brotava no chão com o único intento de fazer minha vida mais difícil que só de lembrar fico nervosa. 2011 foi um ano difícil pra mim, e muitas vezes eu deixava que os outros me afetassem de modo a destruir meu dia todo. O mais triste de tudo? Enquanto eu, a boba-da-corte, surtava e sofria, não fazia o que tinha que fazer e ainda alugava o ouvido alheio com meus mimimis, os outros continuavam suas vidas, sendo graciosamente idiotas, e o mundo continuava girando. Daí um dia eu parei pra pensar se eles eram realmente importantes ao ponto de alterar a dinâmica da minha vida, atrapalhar meu bom humor. Claro que não eram. E por que eu sofria tanto por isso? Comodismo, puro luxo, preguiça, sei lá.
Os hippies não estão errados quando dizem que tudo aquilo que a gente envia pro mundo acaba voltando pra gente. Um exemplo simples? Meu pai. Meu pai é uma pessoa que se estressa absurdamente no trânsito. Ele é a pessoa mais intransigente do mundo com a má direção alheia e isso é um problema seríssimo, pois moramos em Uberlândia, a capital nacional da barbeiragem. Não passo um par de dias sem estar no carro com meu pai e observá-lo ficar extremamente nervoso com alguém no trânsito e passar o resto do caminho resmungando e murmurando sobre essa pessoa. E isso chega a ser tão ou mais irritante que a própria pessoa. Ele se irrita, reclama, o que me irrita profundamente, o que me faz ficar monossilábica com ele, o que deixa ele bastante irritado, e aí aquele tempo que tínhamos pra ouvir música e jogar conversa fora se torna um momento em que cada um fica no seu canto, irritadíssimo, desejando uma morte lenta e dolorida ao próximo. E as pessoas barbeiras no trânsito, fazem o quê? Seguem suas vidas de direção perigosa, quase atropelando uns por aí, sem que nada mude. Ou seja, nada foi feito, só nosso dia que ficou um pouquinho pior. Qual o propósito disso?
Em um artigo no NY Times que nem tem tanto a ver com isso, Bill Maher diz que precisamos aprender a coexistir com as pessoas que nos irritam. É uma atitude digna de criança mimada querer viver num mundo onde ninguém te afeta de alguma forma. Bater o pé no chão e querer que elas sumam não é nem de longe a solução. Uma alternativa? Se desviar dos conflitos. Parei de frequentar a midiateca em época de prova. Meu pai deveria ligar o som alto, respirar fundo e fingir que não viu aquele cara não dar seta. Dê unfollow naquela pessoa idiota que só diz bobagem no Twitter. Adiante aquele livro enquanto o palpiteiro da sua sala diz abobrinhas pro professor. Faça sua vida fácil, e de quebra ajude os outros também. Sei que não parece, mas eu acredito que pessoas cheias de energia negativa contaminam as outras ao seu redor. O rancor, a raiva, e a irritação com coisas pueris contaminam a gente por dentro. Por isso, antes de reclamar, antes de ser escroto como uma pessoa porque foram escrotos com você antes, antes de mandar aquele cerumano pegar fogo, pense se realmente vale a pena gastar sua massa cinzenta com ele.
Ao sugerir isso, não quero dizer que devemos ignorar tudo que nos incomoda e passar diante da vida como se estivéssemos frequentemente sob efeito de Fluoxetina, maconha e afins. Só quero dizer que a gente tende a mimimizar por pouca coisa e precisa se desprender disso. Tentar ser alguém melhor. Não é fácil. É muito mais simples reclamar e passar a vibe negativa pra frente do que deixar aquilo pra trás e seguir mais leve. Tão mais fácil! Mas o que você ganha por isso? Vai resolver seu problema e te fazer sentir melhor? Acredite, na maioria das vezes não.
Quem pede isso é uma pessoa que já deixou muito idiota arruinar seu dia, chegou do outro lado e viu que é possível ser uma pessoa melhor.
Você não sabe como eu estava precisando ler isso. É uma coisa que devo aprender, mas assim como você mesma escreveu, não é nada fácil. Ainda mais quando você mora com a pessoa! Mas a gente aprende e amanhã é um novo dia. Nada impossível, ou ao menos não deveria ser quando o próprio bem estar está em jogo, não é? É um exercício, sem dúvidas. Seu texto me tranquilizou :) Hoje eu andava com a nuvenzinha sobre minha cabeça bem carregada, mas acabei de ter uma lição com você!
ResponderExcluirBeijos
Nossa, super me identifiquei. Não suporto pessoas que empacam o caminho, mas é uma raivinha momentânea, não chega a estragar o meu dia. Sou daquela tipo "muito estourada" , sempre reclamo de tudo e isso incomoda as pessoas tanto quanto alguém que cutuca, mas não é como se existisse um botão pra resolver tudo, acredite é muito difícil. Porém vale a pena tentar, vai que..né?
ResponderExcluirNossa, eu sou muito assim! Fico putíssima com várias coisas que acontecem no dia a dia... Mas vou tentar melhorar né?
ResponderExcluirE meu pai é igual o seu. Ele fica realmente muito bravo quando outras pessoas não sabem dirigir direito e me deixa mais agoniada!
Mas a vida continua né? Não tem como todo mundo ser fofinho e pá. :(
Anna, tb já fui muito assim, de perder o dia também! Ainda tenho uns dias desses, mas acho que aprendi a lidar melhor...!
ResponderExcluirDe qualquer forma, seu guia, rs, é muito bom!!
Beijo grande!
Anna, você é fantástica. É tão bom quando conseguimos pensar friamente e tomar essas decisões na nossa vida né? Porque, realmente. Dizem que sentir rancor é tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra, e acredito que esse tipo de stress que você relatou aí em cima é EXATAMENTE isso. Como eu, que falei na máfia aquela vez, da pseudo cult insuportável que falou mal de Harry Potter na sala de aula. Eu explodi, gritei na sala de aula, chutei carteira, bati porta de carro, cheguei em casa puta e fiquei reclamando por 2h, sentindo uma raiva e um stress que não cabiam em mim e... o que isso mudou na vida da menina? Porra nenhuma, que provavelmente passou mais um dia tranquilo sem nem lembrar que odiava Harry Potter. Ou seja. Eu me acabo e o outro fica lá, bem de boa. Qual o sentido??
ResponderExcluirSou apaixonada pela maneira como você escreve. Venho lendo seu blog aos poucos e fico pasma cada vez que termino um texto. Seu estilo é único, além de me identificar muito com o que você escreve e, consequentemente, com você. Parabéns mesmo!
ResponderExcluirE adorei o texto. Fez todo o sentido pra mim.
GOSTEI MUUUITO!
ResponderExcluirEu tô melhorando no quesito "deixar idiotas estragarem o meu dia", e concordo que mau humor contamina os outros. Meu pai, graças a Deus nem dirige, porque seria complicado ele dirigindo e surtando por aí UAHAUHA
Como diria um amigo meu, às vezes é preciso ligar o desenho animado na cabeça, e deixar o mundo se explodir sozinho, sem se envolver :)
bgs
http://qualquerlink.blogspot.com
Meeeeeu, só consigo pensar: clap, clap, clap (palmas e mais palmas. Juro, sai espalhando esse manifesto por aí, Anna! As pessoas precisam disso, precisam descontrair, todo mundo anda tão estressado e reclamão! O seu texto é como um abrir de olhos, vou até ver se imprimo e mostro pro daddy ler (até pq, a mania dele é bem similar a do seu. trânsito e caos).
ResponderExcluirenfim, viva a leveza de ser!
a gente tem mesmo é que agradecer pelo texto. tudo bem que é difícil algo me irritar assim e dificilmente me incomodo dessa forma com alguém, mas tenho certeza que é mais pela minha falta de atenção do que outra coisa, sei lá. preciso pensar nisso e vou.
ResponderExcluirNossa eu tbm sou assim, querendo que os asnos que topam comigo tenham uma combustão instantanea...
ResponderExcluirMas as vezes eu consigo me controlar, outras vezes nao. E nem sempre é facil assim ignorar. esses dias estou bem mais afetada do que nunca. e nao tem relação com tpm...
Já passei por isso, hoje em dia posso dizer que consigo ignorar grande parte do que me incomoda, as vezes a irritação é maior que eu, mas eu ja melhorei muito tambem. (:
ResponderExcluirbeijo Anna!
ótima filosofia de vida, temos mesmo que aprender a ignorar coisas bobas, que deixamos estragar nossos dias! mas realmente no diaas de tpm é complicado... haha
ResponderExcluirPost dedicado a mim, obrigada.
ResponderExcluirÉ uma forma bastante inteligente de lidar com o mundo e os asnos que vivem nele. Todos os dias me encho de raiva na hora em que os carros da minha cidade param na minha faixa de pedestre. Ou quando aquele garoto da minha sala é um puta machista e está falando suas misoginias para seus amigos e amigas e alguns estão gargalhando. E também, como você, fico fula da vida ao andar atrás de pessoas que se rastejam - olá, trabalhamos e não podemos perder tempo.
Sinceramente: é difícil seguir essa filosofia. Mas certamente é uma boa saída :).
todo dia: o cara que ficou parado na porta do metrô, o infeliz que não levantou o banco do fretado e fez vc se espremer, o louco do mc donald's que não consegue te desejar bom dia, o infeliz do seu professor que dá prova surpresa.
ResponderExcluirdá rugas.
vale a pena não.
(saudade daqui <3)
Muito bom o texto ana! Ótimo para relfetir!
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