quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ai que vontade de mandar um oi

Ou: O amor nos tempos do MSN


Cada geração sabe a dor e a delícia que é viver na época a qual foi condenada. As mocinhas dos romances da Jane Austen tinham os bailes e passeios públicos para resolver seus imbróglios românticos, mas certamente dariam todo tecido nobre que guardavam no armário para um pedacinho da liberdade que temos hoje de cutucar no Facebook a pessoa amada. Assim como nós, mocinhas pós-modernas, nos orgulhamos da chance que temos de tomar iniciativa, mas sentimos uma raiva ali no fundo das coisas serem tão pouco palpáveis. Quem aí não jogaria o iPhone pela janela diante da chance de olhar no fundo dos olhos do Mr. Darcy da vez durante uma valsinha do Dario Marianelli?

A verdade é que, por mais que nossos pais e avós digam que hoje o romance não existe  mais porque a internet nos roubou a maravilhosa oportunidade de flertar por aí, esses joguinhos e piscadelas sempre irão existir. O meio muda, mas meninos e meninas sempre serão meio bobocas na hora de abordar aquele (a) que faz seu coração bater mais forte. Minha fala é tão certa (ui), que pensando nisso senti uma saudade danada da época do MSN. Ah, o MSN.... Porque quando, no futuro, Helena e Davizinho, sangue do meu sangue, saídos de minhas entranhas, estiverem sassaricando por aí via holograma ou algo ainda mais bizarro e high-tech, eu vou adorar dizer que bom mesmo era na minha época, quando tínhamos o MSN. Joguinhos são idiotas? Sim. Mas quem nunca?

Quem nunca decorou o horário que a pessoa amada costumava ficar online ou fazia plantão o dia todo, só esperando aquela janelinha subir? E quando subia, que adrenalina! Dureza era quando você se esquecia de ficar online antes e tinha que fazer aquele cálculo milimétrico do tempo que precisava esperar para mudar seu status e não deixar muito evidente que você só estava ali mesmo porque o outro entrou. No MSN, timing era tudo, e como nós sofríamos em busca do timing perfeito!

Creio que o maior drama da vida amorosa êmeésseênica vinha na questão do oi. Que difícil, meu Deus, era ficar esperando sentada o bonitinho se dar conta de que você estava ali só pra falar com ele e criar vergonha na cara pra tomar iniciativa. Quem nunca ficou aflito, andando em círculos, girando na cadeira, olhando uma janela aberta inerte esperando por um sinal de vida, não sabe o que é sofrimento. Só uma ansiedade das grandes poderia fazer com que fôssemos ao fundo do poço da dignidade quando tínhamos a brilhante ideia de ficar offline entrar de novo. Vai que a pessoa não viu que você estava ali, não é mesmo? Duvidarei até o fim se alguém vier me dizer que nunca recorreu a essa tática desesperada. Pode ser do jeito contido e discreto de quem só ficava off uma vez ou então do jeito desesperado de quem entrava tantas vezes que fazia o programa travar e deixava o outro escutando o apito chato por cinco minutos.

Mais triste do que esperar por um oi que nunca vinha é ouvir o barulhinho, jurar que é a tal pessoa, e ser alguém aleatório dizendo qualquer coisa de inútil. O cúmulo da decepção. E o único sentimento equiparável em emoção, só que do tipo extremo oposto, é o de quando vinha o oi. O estômago revira, as mãos tremem e não encontram as teclas. Você quer mandar na hora: OI TUDO BEM COMO ANDAM AS COISAS NOVIDADES SABIA QUE EU TE AMO? mas tinha que se fazer de cool e blasé e esperar aquele tempinho pra  mandar um oiê como quem não quer nada. 

Se vocês pensam que as fortes emoções chegaram ao fim com o estabelecimento da comunicação, estão muito enganados. O oi é apenas uma fase difícil. Se o flerte via MSN fosse um jogo de vídeo-game, o chefão seria passar do "novidades?". Essa perguntinha sapeca é que decidia se você passaria sua tarde conversando com seu amor ou se desligaria o computador chupando o dedo. Qualquer pessoa minimamente educada se sentiria na obrigação de, ao iniciar uma conversa, perguntar ao outro se as coisas vão bem e se existem novidades. Diante de assertivas ou negativas, vinha o pulo do gato: alguém tinha que puxar um assunto, que puxaria outro, que encaminharia a conversa e levaria os dois pro altar. Era a hora de mostrar pra pessoa do outro lado que você era inteligente, interessante, descolada e divertida. E era hora de ver se ele era mesmo essa coca-cola toda. Eu só conseguia mandar um oi se já tinha todo um roteiro de conversa elaborado, evitando o constrangimento de olhar a janelinha cheia de 'hm" "haha" "...". 

Não sei quanto aos caras, mas nós, garotas, ao menos todas as que conheço, lançávamos mão de uma estratégia preciosa: a amiga na janela do lado. Aquela fiel companheira ficava ao alcance do mouse acompanhando toda a conversa, tecendo comentários sobre as falas de seu interlocutor, sugerindo tópicos quando o assunto morria e acalmando a sua euforia. Na janela dela descarregávamos toda aquela ansiedade e tudo aquilo que queríamos dizer e não podíamos. Exemplo:
Você: AI MEU DEUS ELE ELOGIOU A MÚSICA QUE EU TÔ OUVINDO, ELE ME AMA É OFICIAAAAAAAAALLLLLL QUERO CHORAR. SERÁ QUE DIGO ISSO PRA ELE? É O MOMENTO CERTO?
Amiga: AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!!1111111111 Mas calma. Pergunta primeiro se ele gosta daquele cd. Vocês podem conversar sobre isso.

Essa operação, apesar de valiosa, exigia a cautela para que você jamais errasse as janelas e desse esse tipo de bandeira. Quer dizer, se o fulaninho realmente gostasse de você e fosse muito esperto, usaria isso para avançar várias fases de joguinhos e displicência forçada para enfim dizer a que veio e acabar com todo o sofrimento. Mas quando se tem 13 anos de idade, o mais provável é que ele usasse isso para te envergonhar pelo resto da vida. 

Caso as coisas dessem certo pro seu lado e o bonitinho (ou bonitinha) deixasse transparecer que opa, ele nutre por você o mesmo grand-canyon que habita seu coração há tempos, a única ressalva seria a de tomar cuidado com o coração. Mesmo longe, mesmo na frieza do teclado e do monitor, mesmo sem olho no olho, mão na mão e sorriso besta com risada abobalhada, a emoção de gostar de alguém e se saber (ou achar) correspondido é sempre a mesma. Em qualquer época, em qualquer geração. Bailes, bilhetinhos, telefone, cutucadas e hologramas: borboletas estomacais se fazem presentes. Eu, por exemplo, com o desenvolvimento extremamente favorável de uma conversa (ha. ingênua), pensei que fosse, literalmente, vomitar no teclado, tamanha ansiedade e nervosismo. Tive que sair correndo pro banheiro deixando o moço falar sozinho enquanto eu, like a princess - só que ao contrário -, me recompunha e parava de tremer.


Minha geração morre de infarto não por causa do sódio e da gordura trans. A gente sofre do coração por causa do MSN. 

20 comentários:

  1. Anna, quanto mais eu te leio nessa vida, mais eu tenho certeza de que você é uma das pessoas mais incríveis que eu podia conhecer na minha vida. Gente, morri com esse texto! Parecia que você tinha ficado minha adolescência toda de butuca, me analisando, pra fazer esse post. Gente, o que era estar com o gatinho em uma janela e com a amiga na outra? E a total falta de dignidade de entrar e sair, só pra ter certeza de que ele viu você entrar? Senti no fundo do peito o desgosto de ouvir o barulhinho e constatar que não era a janela dele. E o desespero de ouvir o barulhinho e descobrir que sim, dessa vez era a janela dele, e que já com
    eçava a batalha para passar do novidades. E o nervoso que dava olhar a janela em branco de uma conversa que não passava do novidades??
    Rachei de rir com o !!!!1111, porque no meio do auge da empolgação era sempre assim. A gente soltava o shift sem querer e nossas exclamações iam cheias de 1s!
    Amei, amei, amei! Você arrasou. Se é que eu posso dizer isso, esse foi um dos melhores de todos! HAHAHA

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    1. Ah, esqueci de comentar: Davizinho e Helena, paquerando por hologramas. HAHAHAHAHAHAHAHHAHAAHAHAHAHAH.
      Helena vai ser exatamente igual você. Reserva ela pro meu Vicente, por favor? Obrigada! <3

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    2. AH sim.. as declarações de amor msnzísticas tem outras vantagens: eu salvava tudo pra reler depois. É lindo na época do romance.. terrível na época da fossa. Eu relia e chorava.

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    3. Eu também salvava e relia hahahaha. Que fossa!

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  2. Morri rindo e lembrando disso tudo hahahaha. Era assim mesmo gente, o mais engraçado é que todo mundo em qualquer canto desse país fazia a mesma coisa sempre. Época muito boa e engraçada. Já usei todas as táticas que você citou no post. Agora com a "morte" do MSN, a gente usa o Facebook né? Mas vou confessar que esse negócio de cutucar não é pra mim não, e eu nem sei onde que vê e faz isso haha. Adorei! beijos

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  3. Aiii ri de mais hauauha
    Exatamente isso!
    E assim como as duas pessoas que comentaram, eu também salvava as conversas.
    Meninas, todas iguais! hauahua

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  4. Quase tenho um treco lembrando de como essa época era boa. Gente, era uma ansiedade sem tamanho, sem falar nas horas intermináveis de conversas e registos para ler posteriormente. Ainda bem que não colhi só frutos podres dessa época kkkkkk O MSN me trouxe o meu namorado (oown!).

    É hilário lembrar de tudo isso ao ler o teu texto.

    Beijo!

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  5. Eita nóis, bons tempos! Aconteceu comigo duas vezes, essas cantadas por MSN, e nas duas deu certo. Assim, "deu certo" porque não sei qual o conceito de dar certo na internet hahaha Uma foi com um crush estupendo, a outra com meu atual namorado. Era uma delícia marcar hora pra conversar, ficar esperando, ver a janelinha aparecer! Como será hoje em dia pra garotada? (falou a velha) Eles usam o Facebook? Ai, que sem graça.

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  6. Fora que tinha toda uma questão de personalidade conforme a fonte, os subnicks, a foto, se escrevesse certinho então... era o um príncipe.
    O bom é que não dava pra pessoa ver a gente passando mal, virando pimentão. haha

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  7. Descrevendo o auge de nossas adolescências florescentes hahahahahha
    Apesar dos tantos pesares, foi uma época maravilhosa, exatamente como você descreveu. Ameeeeeeeeeeeeei o texto!

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  8. Ai Anna, até hoje eu faço isso, é uma das coisas que mais gosto de todos os tempos!!! Mas hoje em dia gente é moderno, faz pelo facebook, nossa quando eu vejo aquele umzinho vermelho na janela daquela pessoinha especial. Acho que tem umas duas semanas, eu conversei com um menino que nunca tinha conversado, e na maior cara de pau, mandei: Oi. KKKKKKK Ele é do cursinho também, achei ele gato e resolvi adicionar. Eu ficava com medo de falar com ele e ele não responder, mas depois ele respondeu e a gente conversou um tempão, puxei mil assuntos enfim. Agora estou dando um tempo, esperando ele vir falar comigo, porque a gente não pode mostrar que está muito interessado, tem que se fazer de dificil, né?!!!

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  9. esse é pra entrar no top 10 do blog. Que post incrível! E eu já sabia que seria assim só de ler o título hahahahahaha

    "valsinha do Dario Marianelli" adoreeeeei! *____* hahahahaha

    No MSN, timing era tudo mesmo... morríamos por um oi! ri demais. Mas o meu MSN não funciona mais, nem tem na lista o homem amado. ou seja, PASSADO. kkkkkk

    pra mim cutucar não tem graça. a onda agora é o bate-papo pelo facebook e vc torcendo pra receber um balãozinho vermelho em cima da mensagem! tem gente aqui que sabe do que eu tô falando! hahahahahahahahaha

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  10. Esse seu texto é o conto da vida de nove entre dez adolescentes de 'antigamente'! Me vi tão nitidamente em suas frases que foi impossível não rir - depois que a gente cresce rola até uma certa vergonha desse comportamento enlouquecido. Mas não dá pra negar que era super divertido passar por todo esse constrangimento e emoção com a amiga do coração segurando nossa mão virtualmente, hehe. Ótimo texto! Beijo!

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  11. Eu não vivi esse tempo. O que não deve ser surpresa (vindo da minha pessoa). Sempre detestei MSN, exatamente para não correr o risco dessa paixonite absurda que não funciona na real life. Os garotos da minha escola continuavam sendo os timidos bobos de sempre.
    Saudades do tempo da Jane...
    Beijão!

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  12. Ri desde o título até a última palavra porque só uma coisa descreve esse texto: IDENTIFICAÇÃO!!!! Afinal, quem nunca né, darling? QUEM.NUNCA. O detalhe é que eu faço isso até hoje, pelo facebook, tumblr e o diabo a quatro e quando ao msn? Sempre recorro a ele quando acho que as coisas vão esquentar e quer saber? Se a amiga não estiver online na mesma hora a gente surta TANTO que realmente acha que vai ter um infarto. Ai essas amigas, salvando a nossa pele since ever. O que seria de nós sem elas?
    Mas sabe... eu queria viver um baile maneiro que nem os de Jane Austen porque realmente ia ser zoado, já que não faço IDEIA de como lidar com toda essa emoção cara-a-cara com a pessoa.
    E flerte via holograma vai ser bizarro.
    Abraços <3

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  13. Li o título no meio da aula de informática e já sabia que iria me identificar. Não deu outra! GARGALHEI com o post, Anninha! Lembro de quando eu tinha, sei lá, 9 ou 10 anos (avançadinha, essa sou eu), no auge da quarta série, e a moda era mandar um "9da10?" pro amor da minha vida (ninguém muda isso, desculpa, sociedade). NUN-CA passava disso, e só eu sei a decepção marcante que aquilo era. Quando passava, uma vez na vida e outra na morte, eu podia jurar que era um sinal de que minha paixãozinha era correspondida. Ô vida! Nunca foi! HAUAHUAHAU #chateada
    Saudade daqueles tempos... ai ai!

    P.S. Essa imagem das irmãs (e, bom, mãe) Bennet é de matar! U-a-u! Parece a gente. A Renata sendo a mãe, claro.

    Beijos <3

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  14. HAHAHAHAA Se eu contar que ainda faço dessas de entrar e sair do msn só pra tal pessoa perceber que eu to ali, vocês acreditam? MEU DEUS, MEUS DEUS! hahahaha E fato que a janela da amiga tava do lado e sempre "gritava" na janela dela! hahahaha Cara, amei a parte de deixar o garoto e ir ao banheiro - like a princess. Sou igual, tremo igual vara verde e tento me recompor, da melhor maneira possível (claro, quando eu consigo). Anninha, você é DEMAIS! beijos

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  15. Não me canso de dizer que gosto dos seus textos e que eles são divertidos, né?
    Eu não vivi muito esse amor de MSN, não uso o MSN há anos, mas no começo tinha um pouco disso mesmo... O de ficar offline para voltar é ridículo e todo mundo já fez, tenho certeza, rs
    Bjitos!

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  16. E você acaba de descrever metade da minha vida amorosa.Lembrei de tudo com tanta clareza que até cheguei a pensar que eu estava em 2007 de novo, esperando aquele menino bonitinho da minha sala entrar e falar comigo, ou então em 2009 esperando um cara que queria ficar comigo tanto quanto eu queria ficar com ele, mas nenhum dos dois tinha coragem.Ou até mesmo em 2011, quando eu tive o caso de amor mais trágico e traumatizante da minha vida, haha.Adorei o post e, principalmente, as menções à nossa querida Jane Austen.Ainda espero conhecer uma escritora que me encante tanto com os seus livros quanto ela.
    Beijos :D

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  17. aaaaah os dramas do msn u_u vivo até hoje ooops :3 hahaha quem nunca né?

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