Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias (...)
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias (...)
Meus Oito Anos - Casimiro de Abreu
Minha hora preferida do dia é a manhã e, ironicamente, é a hora do dia que eu menos presencio. Manhãs me remetem a leite com Nescau as oito da manhã no sofá da sala assistindo As Trigêmeas. Era meu rito sagrado matinal, que perdurou durante todos os anos em que eu estudei no turno da tarde, que foram muitos. Por volta das 10h saía para minhas aulas de inglês/ballet/sapateado/natação, sempre a pé, acompanhada pela moça que trabalhava em casa. Mesmo com o sol um tanto mais alto e forte, não era como se ele fosse esturricante, e o céu me parecia sempre de um azul absurdo, as folhas mais verdes, e apesar do cenário ensolarado havia um ventinho gelado. Talvez o bairro lindo que eu morei durante a minha infância tenha contribuído para toda essa memória afetiva em relação às manhãs, já que eu ia me deixando conduzir pela mão e parando para prestar atenção em qualquer detalhe que fosse do caminho, tão absorta naquilo que mesmo fazendo o caminho semanalmente durante anos, nunca decorei os itinerários.Com a mudança para o turno da manhã foi-se embora o leite com Nescau e eu nunca mais assisti As Trigêmeas. O café da manhã passou a ser substituído por um pão na chapa comido às pressas, que ao longos dos anos foi involuindo para a coisa que estivesse mais ao alcance da mão, na cozinha, cuja praticidade era proporcional ao quão atrasada eu estava para a escola - cada dia um pouco mais. Passei a gastar minhas manhãs numa sala de aula hermeticamente fechada, com um ar condicionado sempre tão frio que não importa quantas camadas de roupa eu use, ainda estarei com a ponta do nariz e dos dedos sempre gelados. Se não estou presa em sala de aula, estou atada por Morfeu nos edredons, seja por trocar o dia pela noite, nas férias, ou por uma necessidade extrema de recuperar um sono perdido durante toda a semana, aos sábados e domingos.
As manhãs não existem, agora não mais, apesar de se repetirem todos os dias quando o sol se despede do Japão e vem dizer um alô pra gente. Os mesmos azuis, de um mesmo céu limpo banhado pelo mesmo sol e acariciado pela mesma brisa gelada. O que não existe mais é aquele eu sem preocupações, que se aboletava no sofá de meia e pijamas e saía nas ruas com seu colant azul e meia calça cor-de-rosa, que fingia dores no estômago para faltar às aulas de natação e não passava mal quando tomava leite achocolatado. As manhãs não existem, essas não mais, e é bom que permaneçam assim, sendo perfeitas enquanto guardadas com carinho nesses repentes nostálgicos que me fazem suspirar e pensar como o poeta, oh que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!, olhando para a janela, às 7h (hora da manhã fria e sem graça), como num filme da Sofia Coppola.
As manhãs não existem, como não são possíveis de existir vinte e quatro horas de aurora. Ando por aí procurando uma nova hora do dia pra achar o céu sempre lindo.
É tão engraçado, porque às vezes quando ligo a tv no Bom dia Brasil e escuto a música da abertura, viajo no tempo até os meus 6, 7 e sinto o cheiro do café com leite que eu tomava antes de ir pra escola. Tempo que não volta mais, mas que deixa saudades e boas lembranças :)
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirUm olhar maravilhoso sobre a infância. Poético, Anna!
Beijos
Nem fala Ana, nem me fala...
ResponderExcluirSe vc sente saudades, imagina eu que sou alguns anos mais velha que vc.. :~
Crescer nao eh facil; os olhos mudam, as coisas mudam.. e nem sempre pra melhor!
As lembrancas sao as melhores sem duvidas! e um tempo que nao volta mais :~
Talvez com os filhos a gente relembre melhor.. quem sabe!
So sei que vc disse do leite com nescau, eu lembrei de neston x_X to morrendo de vontade aqui! rs...
Beijos e boa semana pra vc ;)
PS: ANNA****** (tsc)
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMe lembrou a delícia que eram essas manhãs preguiçosas, quando os desenhos matinais e o café da manhã eram as únicas "preocupações".
ResponderExcluirIncrível o texto! ;)
Um beijo.
Eu troquei os desenhos animados da manhã (porque também já não passo a manhã em casa, aliás, só estou em casa para dormir e aos finais de semana) pelo telejornal da região sul. Troquei o nescau que tomava tranquila em casa, pela caneca de chá e o sanduíche comido às pressas no serviço, em meio as conversas com minha colega de sala. O que mais sinto falta, realmente, do sol maravilhoso (quando ele aparece, é claro) do inverno, que aquece, anima e me deixa disposta a seguir o dia...
ResponderExcluirbeeeijos :*
Considerando o fato de que do maternal até a 5ª série eu sempre estudei pela manhã, eu posso dizer que as minhas não existiram,né? Porque daí quando eu comecei a estudar a tarde...bem, acho que eu já não tinha mais "tempo" pra apreciar as belezas matinais.
ResponderExcluirO que é uma pena, na minha opinião :(
Beijo,Anninha ^^
Ai Anna, maravilhoso!! Eu tbm sinto muitas saudades das minhas manhãs da infância. Desde que comecei a estudar de manhã elas viraram o mesmo que pra vc: Ou sala de aula ou edredon.
ResponderExcluirBeijos
Eu sugiro então... que você passe a gostar de pores do sol. Lindos, sempre diferentes, deixando tudo com luminosidade diferente. E são em um horário do dia sempre à mão. :)
ResponderExcluirBeijo.
Aah, eu nunca tive manhãs, sempre tive sono ruim e dormi até tarde porque demoro pra pegar no sono... Gostava de estudar de manhã por isso, ver o dia render ^^
ResponderExcluirMas num gostava de levantar cedo pra trabalhar :/
Mas enfim, adorei seu post *-*
E ontem lembrei de você enquanto vasculhava os filmes na Americanas e encontrei alguns da Audrey, ai me peguei lembrando de você, pensei "vou contar pra Anna que eu vi isso aqui!"
Beeijooos :*
bonito bonito.
ResponderExcluirmas eu nunca gostei das manhãs.
prefiro o anoitecer, quando o céu fica rosa e laranja, e tudo vai mudando.
;)
Durmo durante as manhãs. à noite sim, aproveito para me empenhar em tudo - literariamente, inclusive. Eis o único ponto em que sou vampiresca.
ResponderExcluirDepois que passa, sempre dá saudades, né? Eu sempre estudei de manhã, mas ainda sim entendo o que você quis dizer. Existem coisas que somem quando a gente cresce, e mesmo que continuassem aqui, elas não teriam o mesmo valor que a gente dá por elas não estarem mais aqui. A infância é uma lembrança doce.
ResponderExcluirQue post mais fofo! O que eu gosto do céu é quando ele fica rosinha. Comecei a reparar nisso quando tava na Jamaica. Lá, no fim da tarde o céu fica uma mistura de rosa e amarelinho muito muito fofo. Daí fui reparando em Floripa e aqui em São Luís tbm.
ResponderExcluirbeijo!
O texto ficou lindo! Eu nem sei se tive manhãs dignas alguma vez na vida....sempre estudei de manhã!! sempre!! nunca via os desenhos animados da manhã hahaha
ResponderExcluirlindoo anna!
ResponderExcluiré verdade que as manhãs da infancia eram mais gostosas, inclusive pq a forma da gente ver o mundo era mto mais despreocupada.
era uma delicia. e é verdade que é melhor deixar tudo guardado, pra sentirmos a nostalgia nas horas vagas....
e eu fiquei com vontade de leite com nescau.
bjuxx !
Que texto mais lindo.
ResponderExcluirCheio desse sentimentalismo nostálgico.
Tenho uma saudade da época que eu conseguia andar despreocupada, com olhos inocentes, observando tudo...
Nunca pertenci às manhãs, gosto mesmo do fim da tarde, das cores brincando no céu.
Enfim, gostei daqui, vou seguir e linkar.
Beijo
eu realmente não gosto das manhãs. e acho que elas não gostam de mim. nunca consegui fazer nada antes do meio dia, e nada realmente quer dizer nada. quando estudava, acabava dormindo em todas as aulas. enfim, trágico.
ResponderExcluire isso me lembra que são quatro horas e amanhã tenho aula às dez.
Isso é, quem passa no vestibular, obrigatóriamente tem que namorar rs Eu fujo dessas coisas, não tem como você explicar POR QUE não namora, rs
ResponderExcluirBeeijos :*
Curioso ler um texto cujo o poema inicial é Casimiro de Abreu. Poeta da região em que eu nasci e decorei Meus Oito anos, com oito anos.
ResponderExcluirAhhh mas tds somos assim nostálgicas quanto a manhã que dava aproveitar e agora não dá mais =X
Beijos querida.
...Lindo!!!!!
ResponderExcluirNão perca isso.
beijos!
A gente vai crescendo e as coisas vão se perdendo, tudo mais prático, mas superficial... Mas depois de vivido as coisas não evaporam nem com o tempo, tudo fica guardado e num momento ou outro de nostalgia sempre voltam... (Tô filosofa hj) E pra que tenhamos do que nos lembrar com carinho e sentir saudade, que vivamos cada segundo como o ultimo, é clichê mas é verdade! Quando começo a lembrar da uma saudade e eu também tomava achocolatado assistindo as trigêmeas! rsrs Ser criança é tudo maior, mas brilhoso e mais fácil também.
ResponderExcluirBjs querida